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Outras descobertas

Com pouco dendê e muita criatividade, a culinária se destaca como um dos pontos altos de Prado. No quesito praias, saia do centro para conquistar a merecida tranquilidade

Por Felipe Mortara e PRADO
Atualização:

Era semana das mais complicadas. Enquanto minha cabeça se ocupava com preocupações sobre prazos apertados e malabarismos financeiros, o avião aterrissou em Porto Seguro. Bastou ouvir o sotaque do vendedor de água de coco na saída do aeroporto para esquecer de tudo e começar a relaxar. E ainda faltavam 210 quilômetros para chegar a Prado, onde eu passaria os próximos dias. A maior parte das ruas da cidade, fundada em 1755, é de terra. No centrinho, uma praça onde tudo acontece, especialmente à noite: a feira de comida e artesanato é programa tradicional. Em frente à igreja matriz, uma banda marcial se apresenta, afinadinha, nas noites de novena para Nossa Senhora da Purificação, entre os meses de janeiro e fevereiro. Nada mais autêntico e cativante que procissão numa cidadezinha de 30 mil habitantes. Impossível não se contagiar com uma atmosfera tão aconchegante. Refletida na hospitalidade de Nilson e Adriana, da Pousada Guaratiba (pousadaguaratiba.com.br), onde tive um sono tranquilo à noite e um farto café da manhã para começar o dia. Não que comer seja um problema em Prado. Pelo contrário: a cidade é famosa por seus dotes culinários, especialmente em se tratando do Beco das Garrafas. Batizado em homenagem à lendária viela onde artistas do Rio de Janeiro se reuniam nos anos 1950 e 1960, concentra os principais restaurantes e bares da cidade. Toda noite, o espaço é tomado por mesinhas, de onde se ouve uma trilha sonora composta por voz, violão e MPB. A primeira oportunidade que tive de comprovar a reputação culinária de Prado foi no Banana da Terra, da divertida chef Márcia Marques, onde me deliciei com frutos do mar incrivelmente bem preparados (leia mais abaixo). Não é de se estranhar, afinal, que um dos eventos mais concorridos da cidade seja o Festival Gastronômico (aprhope.com) realizado em outubro, que chega este ano à sua oitava edição. Formas e cores. A criatividade que se vê nas panelas também se reflete nas obras de artistas locais. Agadman produz telas fascinantes, com desenhos que misturam um quê da simetria de Cornelius Escher (1898-1972) com as cores de Alfredo Volpi (1896-1988). Dia desses, uma de suas obras foi parar na sede da ONU, em Nova York. Seu filho Agman cria incríveis esculturas em peças únicas de madeira. A arte está tão presente na vida da dupla que até o ateliê tem suas peculiaridades. Localizado de frente para o mar, foi projetado para que todas as janelas refletissem o oceano. Agende uma visita para ver de perto - ou acesse: agadman.com.br. Logo ali. Honestamente, as praias do centro de Prado, com mar revolto e água turva (e barracas com decibéis em demasia), não são lá essas coisas. Mas não é preciso ir longe para curtir um dos mais belos trechos do litoral baiano. Basta pegar o carro e escolher onde fincar o guarda-sol. A 12 quilômetros ao norte, a Praia do Tororão exibe um belo cenário de falésias, com uma pequena bica de água doce. O mar é calmo, bom para famílias, especialmente na maré baixa. Há uma única barraca, que costuma cobrar consumação mínima de R$ 100 por mesa na alta temporada. Ali, o prato mais pedido é o camarão ao Tororão (R$ 90), que serve bem até três pessoas. Outra charmosa faixa de areia, Japara Grande está 10 quilômetros adiante e segue a mesma fórmula de sua vizinha: barraca solitária, falésias e mar convidativo. De quebra, um rio de águas limpas e quentinhas. Como resistir? Da falésia, o instrutor Janderson Martins leva os turistas a descobrir a paisagem do alto, em voos de parapente. São 15 minutos de contemplação, que começam com uma descarga de adrenalina: para decolar, é preciso correr para o vazio. Depois, é só curtir o silêncio enquanto avista o mesmo Monte Pascoal que Cabral viu há mais de 500 anos. De um ângulo que ele não teve a oportunidade de descobrir.

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