Pare, olhe, escute: confira passeios de trem pelo Brasil

Visitamos três dos 31 trens turísticos espalhados pelo País - no Rio, em Espírito Santos e Minas. Com um ritmo que raramente ultrapassa os 20 km/h, eles convidam o viajante a desacelerar e contemplar as nuances do cenário ao redor

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Por Bruna Toni
3 min de leitura

TRILHA SONORA: fizemos uma lista de músicas no Deezer.com para você entrar no ritmo das viagens de trem - vai de Clube da Esquina a Aerosmith. Aperte o play em: oesta.do/musicanotrem.

No Espírito Santo, a descoberta de novas paisagens de dentro dos vagões Foto: Bruna Toni|Estadão

RIO - Nenhum daqueles trens era azul como o da canção. Nem o elétrico do Rio de Janeiro, nem a litorina do Espírito Santo, nem a maria-fumaça de Minas Gerais. Mas lá estávamos nós, com o sol sobre as cabeças e cheios de expectativas comuns a quem espera pela hora da partida em cada estação.

Sobre o que restou dos trilhos das tantas estradas imperiais que cortavam o País a partir do fim do século 19, num leva e traz crescente de mercadorias e trabalhadores, percorremos um pedacinho da cultura e da história que formaram o sudeste e, por que não dizer, o Brasil ao longo do último século.

É preciso desacelerar o passo e a mente para seguir viagem. Movido a uma velocidade de no máximo 15 quilômetros por hora, quem embarca em uma das três locomotivas – ou nas outras 28 espalhadas pelo País que também funcionam com finalidade turística – entra num outro ritmo de vida, difícil de acostumar nossas mentes modernas incomodadas com reduções de velocidade mundo afora.

Na 14.ª posição mundial, o Brasil ainda está longe de alcançar o número de trens de passeio dos Estados Unidos, no topo da lista, com 342. Pudera. Diante do advento das rodovias, ir de trem nos pareceu démodé. Na sabedoria popular de Flávio Iglesias, com seu sotaque mineiro e maquinista de longa data, “hoje em dia, trem é coisa, e coisa não é mais trem.”

Mas, tanto quanto a moda se reinventa, trazendo à tona tudo aquilo que, até ontem, era roteiro de vida de nossos pais e avós, o sistema férreo brasileiro parece ter reencontrado status e importância no turismo.

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Foi esse movimento que fez com que a Abottc (Associação Brasileira de Trens Turísticos) e o Sebrae iniciassem, em 2014, o projeto Trem é Turismo. A ideia é dar mais vida à economia de bairros e pequenas cidades que abrigam estações ferroviárias, como Cosme Velho, no Rio, Domingos Martins, no Espírito Santo, e Rio Acima, em Minas Gerais.

Aliadas a passeios que envolvem natureza, gastronomia, cultura e história, as locomotivas atraem desde desbravadores que combinam a experiência dentro dos trens a atividades nas cidades, aos que, como diz Milton Nascimento, vieram “apenas para ouvir o barulho do trem”.

Trem do Corcovado: subida até o Cristo dura 20 minutos Foto: Bruna Toni|Estadão

Futuro promissor. Conseguir um espaço na janela de um dos vagões do Trem do Corcovado para ver o Rio do alto é quase impossível, tamanha a quantidade de pessoas extasiadas com cada metro morro acima. Um encantamento semelhante ao que se vê nos olhos das crianças diante do velho maquinista que puxa a cordinha da maria-fumaça mineira, provocando um alvoroço com aquele apitar fino – e nos olhares de saudade de uma gente adulta que pode, enfim, reviver a infância.

Segundo o Sebrae e a Abottc, os 20 trens turísticos que fazem parte do projeto transportam atualmente cerca de 3 milhões de pessoas por ano. Com investimento de R$ 4,4 milhões, a meta é aumentar o número de passageiros em 15% até 2016 e impulsionar 600 pequenos negócios no entorno das estações.

Até dezembro, o projeto deverá lançar uma central única para reserva e compra de passagens online. A novidade vai reunir, em um primeiro momento, quatro dos 21 roteiros existentes. Além disso, em dez anos, a Abottc e o Sebrae pretendem dobrar o número de locomotivas voltadas ao turismo no País. E caminhos para isso há de sobra. 

Ao longo do trajeto entre as capixabas Vitória e Viana, rotas vazias do que um dia foi linha férrea movimentada vão surgindo espaçadas na paisagem vista da janela. Há ali um quê de futuro misturado ao passado que ainda tem muito a revelar, num claro convite à redescoberta do sertão ao litoral pelos trilhos.*A repórter viajou a convite do Sebrae e da Abottc.

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