Por trás de Cortina

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Foto do author Adriana Moreira
Por Adriana Moreira e CORTINA DAMPEZZO
Atualização:
Com raquetes nos pés, pra explorara região de Cinque Torri Foto: Adriana Moreira/Estadão

Entre um cochilo e outro na van, rumo a Cortina D'Ampezzo, os olhos tentavam identificar algo naquela paisagem noturna. Luzes de Natal brilhavam aqui e ali, e era possível ver casinhas iluminadas de vilarejos em meio ao vale. No horizonte, montanhas nevadas brilhavam ao luar. Uau, imagine isso tudo durante o dia.

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Chegávamos a um dos principais resorts de neve da Europa, porta de entrada de um patrimônio da Unesco, as montanhas Dolomitas, a 44 quilômetros da fronteira com a Áustria. Mas não dá para esquecer que, apesar da notória influência austríaca, estamos na Itália. O que significa que não importa quantas calorias você vai gastar praticando esportes de inverno: todas serão repostas rapidamente, assim que você se sentar à mesa para a próxima refeição.

Comer na Itália é sinônimo de pratos fartos e cheios de sabor. E, em se tratando de um tradicional refúgio aristocrático, a alta gastronomia tem presença garantida. O melhor exemplo do que ocorre quando esses dois fatores se unem é o Tivoli (ristorantetivolicortina.it), restaurante que tem uma estrela Michelin, serviço cuidadoso e zero afetação.

A maratona gastronômica proposta pelo chef Graziano Prest começou com um camarão tenro, com frutas vermelhas secas e purê de topinambur (tipo de batata local). Seguiu com um ovo crocante com espinafre, queijo taleggio derretido e trufa branca (nada de cara feia para o ovo: não tem nada a ver com aquele que você faz em casa). Depois, um risoto com molho de foie gras, pecorino e cogumelo.

Quando chegaram as sobremesas, eu já não conseguia comer mais nada. Mas, ainda assim, comi. Prest faz questão de cumprimentar os clientes, conversar, saber suas opiniões. Daquele jeitão bem italiano. O menu degustação com três pratos custa 90 ( 120 com champanhe) e vale cada centavo.

Nada de culpa: antes dessa maratona gastronômica, eu havia suado bastante no snowshoe (ou ciaspe, em italiano), caminhada com raquetes nos pés. A meta era circular as Cinque Torri, um dos cartões-postais da região, mas tudo iria depender do pique do grupo.

O guia Enrico Maioini deu a dica: um passo de cada vez. E assim seguimos. Entre subidas e descidas, não demorou muito para alguém tomar o primeiro tombo. Mas todos, em algum momento, "sentamos" no gelo. Caímos na neve - e na risada.

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Tombos inofensivos, cercados por uma paisagem que ficava mais bela a cada passo. O sol brilhava e aquecia nossa caminhada sobre o gelo - não demorou para eu guardar na mochila meu casacão de neve, o cachecol e até o fleece (blusa intermediária). No caminho, uma pequena capela, com a imagem de Nossa Senhora, protege os esquiadores que passam por ali.

Já estávamos no trecho final. As pernas reclamavam da subida, e o refúgio de montanha, de onde partimos há pouco mais de duas horas, parecia nunca chegar. A recompensa por tanto esforço? Um almoço bem italiano, com tábua de frios de entrada e uma deliciosa massa de prato principal. Com vinho, uma refeição como esta custa, em média, 60 por pessoa.

Neste dia ainda tivemos tempo de passear no centrinho, repleto de lojas de grife - e com preços bastante desencorajadores. Se não estiver disposto a gastar muito, melhor chegar à cidade já com seu equipamento de neve.

O frio era intenso, e o chocolate quente de uma das barraquinhas do centro veio bem a calhar. Cremosidade, sabor e felicidade por apenas 5. Sim, foi naquele dia que jantamos no estrelado Tivoli. Não me julgue.

Remédio antifrustração.

E os esportes? Ah, sim, entre uma comilança e outra, deveria haver algum esporte de neve. Tivemos uma aula de esqui cross-country (sci de fondo)- peço desculpas aos entusiastas, mas o esporte não me conquistou. Trata-se de caminhar na neve com esquis bem fininhos, o que, para os iniciados, não deve ser muito problemático. Mas o nosso grupo de iniciantes passou mais tempo na van do que efetivamente na pista.

A frustração foi compensada com... comida, claro. No La Corte del Lampone, no Hotel Rosapetra (rosapetracortina.it), com vista para as montanhas, provei o prato típico de Cortina: o raviolini de beterraba.

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Não houve tempo para esquiar, mas é bom saber que há 115 quilômetros de pistas nas três áreas esquiáveis de Cortina (Lagazuoi-Cinque Torre, Faloria-Cristallo-Mietres e Tofana). Do centro saem ônibus gratuitos que levam aos meios de elevação a cada 15 minutos.

Antes de partir, o jantar de despedida no Baita Fraina (baitafraina.it) foi uma baita comilança, com vinhos harmonizados da adega de Adolfo Menardi, que conduz o restaurante ao lado do irmão Alessandro, o chef de cozinha. Clima familiar, jeitão de cantina e ótimo atendimento, com menu a partir de 30.

Amanhecia quando pegamos a estrada em direção a Veneza. Os povoados, as montanhas, o vale: tudo agora tinha contornos próprios. Ainda mais bonitos que na minha imaginação.

Cortina é uma cidade cara. Para comprinhas espertas, o outlet McArthur Glen Noventa di Piave, a 30 minutos de Veneza, reúne ofertas de grifes como Prada, Armani, Salvatore Ferragamo... São 120 lojas. Mais: mcarthurglen.com/br

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