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São Miguel, a missão

Por Ricardo Freire
Atualização:
PATRIMÔNIO: Fundado em 1632, está a 500 km de Porto Alegre Foto: Ricardo Freire|Estadão

Depois de visitar as missões jesuíticas da Argentina e do Paraguai a partir de Foz do Iguaçu (contei a aventura aqui há um mês; leia aqui), prometi a mim mesmo ver as missões em território brasileiro na primeira oportunidade que tivesse. Então, na semana passada, fiz um longo desvio entre Porto Alegre e a Serra Gaúcha para passar em São Miguel das Missões. A cidadezinha fica a 500 km de Porto Alegre pelo caminho com melhor asfalto, via Carazinho (o trajeto via Cruz Alta é um pouco mais curto, porém tem trechos bastante esburacados).

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Fundada em 1632, a missão precisou ser abandonada em razão de ataques bandeirantes. Foi retomada em 1687, e se manteve sob comando jesuíta até 1750. Seu fim foi precipitado pelo Tratado de Madri, de 1750. A região das Missões a leste do Rio Uruguai passava a ser portuguesa, em troca da Colônia do Sacramento, que iria para a coroa espanhola. Índios e jesuítas foram ordenados a deixar o território português. Os guaranis se recusaram, e guerrearam contra portugueses e espanhóis unidos. Mesmo perdendo a guerra, emplacaram um herói no imaginário gaúcho: o índio Sepé Tiaraju, que virou santo canonizado pelo povo, com direito a virar nome de cidade (São Sepé).

Comparada a Trinidad no Paraguai ou San Ignacio na Argentina, São Miguel oferece pouquíssimos resquícios do aldeamento jesuíta. De pé só restou mesmo o belo esqueleto da Catedral. Seu museu, no entanto, é o mais rico de todas as missões: ali está reunido o maior e mais impressionante conjunto do barroco missioneiro.

Já o show de som e luz precisa ser atualizado. O espetáculo argentino leva o público a percorrer a missão de San Ignacio e explica a história de maneira didática, lançando mão de efeitos holográficos. O espetáculo brasileiro, gravado em 1978, tem o luxo das vozes de Fernanda Montenegro, Paulo Gracindo e Lima Duarte, mas é quase tão indecifrável quanto uma missa pré-Concílio do Vaticano II, com frases empoladas, declamadas na segunda pessoa do plural.

Para entender as Missões, o ideal é mesmo fazer o circuito completo. São Miguel tem a nossa história e o melhor museu; Trinidad, no Paraguai, conserva a cidadela mais elucidativa; e San Ignacio tem o show de som e luz mais espetacular. Dá para ir em carro próprio ou de ônibus: a Reunidas leva de Santo Ângelo a Posadas, na Argentina, boa base para visitar Trinidad no Paraguai. Siga de Posadas a San Ignacio e, de lá, a Puerto Iguazú, de onde você volta por Foz.

Envie sua pergunta para viagem.estado@estadao.com

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