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Sossego na Serra: sabores regionais tomam conta da Mantiqueira

Na divisa entre Campos do Jordão, Santo Antônio do Pinhal e São bento do Sapucaí, Campos do Jordão mostra seu lado mais bucólico, aliando natureza, autenticidade e culinária refinada

Foto do author Adriana Moreira
Por Adriana Moreira
Atualização:
Vista das serras a partir do Hotel Botanique Foto: Adriana Moreira/Estadão

Se você conhece só a Campos do Jordão concentrada no bairro do Capivari, com seu trânsito de fim de semana, casas de fondue e burburinho, saiba que, a alguns quilômetros dali, a atmosfera é bem diferente. Na divisa com os municípios de Santo Antônio do Pinhal e São Bento do Sapucaí, a vida ganha ares mais tranquilos e sabores mais autênticos.

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A Estrada dos Mellos é o eixo de ligação entre o agito e o sossego, por onde se alcança lugares que têm mais a oferecer do que apenas seus produtos, mas também uma porção de história e dedicação. Como a produção caseira de shitake do casal Yuri e Andréia ou a sorveteria Eisland, sustentável a ponto de a própria fazenda plantar o milho que será oferecido às vacas que produzem o leite usado na receita, sem aditivos hormonal ou químico. 

Ali também está o Botanique, um dos hotéis mais luxuosos do Brasil, que tem como princípio valorizar os produtos brasileiros. Da decoração aos livros da biblioteca, do café da manhã ao jantar refinado, tudo foi pensado para botar em evidência talentos, produtos e sabores nacionais - especialmente da região onde está inserido.

Aqui, um roteirinho para ser feito em qualquer época do ano. Uma dica: leve dinheiro vivo, já que muitos lugares não aceitam cartões. 

Sorveteria Eisland

Bezerro da sorveteria Eisland Foto: Adriana Moreira/Estadão

Os sorvetes ficam em um amplo galpão típico de fazenda, com mesas para degustar os gelados sem pressa. Do lado de fora, é possível ver algumas das vaquinhas que produziram o leite usado na receita pastando tranquilamente - diversão extra para as crianças. Segundo Marcos Galvão, dono do negócio, até o sorvete chegar ao congelador existe toda uma cadeia de produção orgânica. O milho e a aveia usados para alimentar o gado Jersey são plantados na própria fazenda, sem suplementos para aumentar a produção leiteira. As vacas tampouco são confinadas - em média, trabalha-se com de 12 a 14 animais em lactação, que são suficientes para produzir aproximadamente 250 quilos de sorvete ao mês.

Há cerca de 30 sabores, que podem mudar de acordo com a sazonalidade (a macadâmia usada em alguns deles é produzida na própria fazenda). Fui de banana com gengibre, delicioso - há opções tradicionais e outras como maçã com canela, mascarpone com jabuticaba ou caramelo com gianduia. A bola custa R$ 8,50, no copinho ou casquinha.

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Casa da Mata  Estrada Municipal do Lageado, a 250 metros da cachoeira

A entrada da Casa da Mata, onde é produzido shitake Foto: Adriana Moreira/Estadão

A caminho para a Cachoeira do Lageado, já em Santo Antônio do Pinhal, uma pequena placa indica a Casa da Mata, ao lado do aviso “Subir a pé”. No alto da escadaria, outro aviso: “toque o sino”. Ali, o casal Andréia e Yuri tem uma pequena produção de shitakes, vendida para turistas e para o comércio da região. Segundo Andréia, a loja foi aberta em 2008, mas o cultivo já era feito desde 2001. “Ficou mais prático, não precisamos ir longe para vender”, conta. A bandeja com os cogumelos fresquinhos custa R$ 8, mas há também conservas e geleias. Na loja, encontra-se ainda almofadas, cachecóis e outros itens de artesanato produzidos pela própria Andréia.

Empório dos Mellos Rua Elidio Goncalves da Silva, 1.800, Campos do Jordão

Empório dos Mellos Foto: Adriana Moreira/Estadão

Misto de empório das antigas - daqueles que vendem um pouco de tudo - e restaurante, costuma ficar cheio na hora do almoço de sábado. No salão principal, vende-se artigos de pequenos produtores da região: café orgânico, mel, temperos, cervejas, cachaças, geleias, compotas. O restaurante fica no anexo, com menu enxuto e cheio de sabor. Sei que a especialidade da região é a truta (servida ali gratinada ao molho de queijos, com arroz negro de Pindamonhangaba e purê de abóbora kabochá). Mas não resisti às palavras tutu de feijão e costelinha de porco na mesma frase, com o acompanhamento de couve refogada. Não me arrependi. 

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A terceira e última opção era a galinha caipira, com polenta cremosa, farofa de banana e quiabo. Optando pelo menu, com entrada, prato principal e sobremesa, gasta-se R$ 69 por pessoa. Fecha apenas às terças-feiras; nos outros dias, abre das 9h às 17h (sábados e domingos até às 18h). 

Cervejas e cachaças A Baden Baden já é velha conhecida de quem vai a Campos do Jordão. Mas, nos últimos anos, o número de cervejarias artesanais vem crescendo. Uma delas é a Bauzera, em São Bento do Sapucaí, que veio se alinhar a outra paixão de Eliseu Frechou (que toca o negócio junto da mulher, Ana, e do filho Vitor): as montanhas. Afinal, a fábrica está nos fundos da escola de escalada fundada por ele em 1989; no jardim, na frente, fica o convidativo biergarten, aberto apenas aos sábados.

Cerveja artesanal Bauzera funciona numa escola de montanhismo Foto: Adriana Moreira/Estadão

Segundo Frechou, a ideia de ampliar o ramo de negócios veio a partir da crise econômica. “O mercado mudou, achamos que seria bom diversificar”, explica. A produção é pequena: apenas 1.500 litros por mês, com fermentação natural. “É preciso ir devagarzinho, como na escalada.” Ao todo, a marca conta com sete tipos de cerveja além da pale ale, minha favorita (R$ 30 a garrafa, R$ 14 o chope). 

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Outra cervejaria de produção artesanal na região é a Antoniubier, do bar Bode Expiatório, em Santo Antonio do Pinhal. Ali, Natashe e Eduardo Lopes - que de clientes viraram proprietários -servem seis tipos de cerveja (R$ 9), com destaque para a Ginger Bier, de gengibre. Para acompanhar, petiscos frios, incluindo queijo de cabra produzido no local. 

Mas se o seu negócio é cachaça, vá direto no A Bodega, com dezenas de galões de vidro em que a branquinha descansa com algum agente de sabor: frutas, sementes, temperos. Dá para degustar à vontade antes de escolher sua favorita - as garrafas custam de R$ 12 a R$ 20, em média. Abre apenas aos sábados, domingos e feriados.

Oliq azeites

Fazenda da produção dos azeites Oliq, em São Bento do Sapucaí Foto: Hélvio Romero/Estadão

O acesso é por uma estrada difícil e esburacada - portanto, é melhor desistir da visita em dias de chuva. A visita é grátis - dá para conhecer a fazenda, entender os detalhes da produção e, ao final, fazer uma degustação com os azeites produzidos no local. A garrafa custa R$ 35. Aberto aos sábados e domingos, das 9h às 16h; durante a semana, ligue antes de ir.

NATUREZA À VISTA

Cachoeira do Lageado

Cachoeira do Lageado, em Santo Antônio do Pinhal Foto: Adriana Moreira/Estadão

Com aproximadamente 20 metros de altura, a cachoeira tem ótima infraestrutura para ir em família, com banheiros e mesinhas para piquenique. Se for em um dia de sol e calor, leve roupa de banho, aproveite para renovar as energias e entre n’água (geladíssima). A queda forma uma piscina natural com fundo de areia, bastante convidativo. Fica a 7 quilômetros do centro de Santo Antônio do Pinhal. Na entrada, paga-se R$ 5 por pessoa. 

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Complexo da Pedra do Baú

Pedra do Baú, em São Bento do Sapucaí Foto: Adriana Moreira/Estadão

O cartão-postal mais icônico da região fica oficialmente em São Bento do Sapucaí - e pode ser visitado por pessoas com diferentes graus de preparo físico. Para ver a formação rochosa de pertinho, basta deixar o carro no estacionamento do Bauzinho e caminhar por cinco minutos, em uma trilha bem marcada, até o mirante. Os mais aventureiros podem subir na pedra por uma escada metálica, num passeio de cinco horas, ou fazer uma trilha de 1h30 para a pedra Ana Chata. Com a Baú Ecoturismo

 

SONO TRANQUILO E SEM OSTENTAÇÃO

Entrada do hotel Botanique Foto: Adriana Moreira/Estadão

Não há recepção, bufê de café da manhã, carros estacionados em frente aos chalés. No Botanique, o conceito de luxo está ligado ao bem-estar e à simplicidade dos detalhes – algo que a proprietária, Fernanda Ralston Semler, denomina de pós-luxo.

Não há processo burocrático para o check-in – tudo já foi cuidado com antecedência, por e-mail. O café da manhã vem até você: todas as noites, o hóspede preenche uma ficha em que marca tudo o que gostaria de comer e o horário, coloca debaixo da porta e voilà: no dia seguinte, pães quentinhos e suco fresquinho chegam à sua porta. E você come de pijama, na cama, na varanda, onde quiser. 

Para não interromper a tranquilidade e o canto dos passarinhos com ronco de motores, os carros só chegam até a Casa de Vidro – área de apoio que também conta com um cinema exclusivo para casais (um por vez). Ali, carrinhos de golfe “resgatam” malas e hóspedes até os chalés ou quartos. Quando cheguei ao meu, por exemplo, a banheira estava repleta de flores, me esperando. E eu não podia decepcioná-la. 

Inaugurado há cinco anos (depois de anos parado por causa de desentendimentos entre os acionistas), o hotel tem como um de seus pilares a valorização da cultura nacional. “Tudo aqui teve uma curadoria”, conta Fernanda. Os livros da biblioteca, a mobília de design, a seleção musical, as peças de arte demonstram que não falta requinte e talento no Brasil.

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Essa premissa também se estendeu para a cozinha. O restaurante Mina evoca uma culinária contemporânea com sabores bem brasileiros – caso do ravióli (na verdade, uma trouxinha) de pupunha recheado com shitake produzido logo ao lado, na Casa da Mata, e saladinhas da horta da propriedade. O restaurante só recebe não-hóspedes no almoço, com reserva e pré-pagamento antecipados. 

Ravióli de pupunha com recheio de shitake preparado no Mina Foto: Adriana Moreira/Estadão

É possível optar por diárias com café, meia pensão ou pensão completa (a partir de R$ 1.920), mas em todas elas você tem a disposição a infraestrutura da propriedade. Além da piscina e da quadra de tênis, há empréstimos de bikes – dá para ir tranquilamente até a Cachoeira do Lageado, a cerca de 4 quilômetros. 

No spa, os tratamentos e massagens revigorantes são pagos, mas a piscina ionizada, coberta e aquecida, está à disposição de todos. A escolha é sua: dá para ir com seu próprio roupão ou se trocar ali mesmo, em uma das cabines individuais, com chinelos e roupões (além de roupa de banho descartável) à disposição.

Como o friozinho é parte indissociável da serra, os quartos têm aquecimento e lareira. E pode atacar o frigobar à vontade, sem medo da conta no final. Está tudo incluído na diária, assim como as guloseimas bem brasileiras disponíveis no quarto: paçoca, biscoito Globo, pé de moleque e, vez ou outra, um brigadeiro deixado de surpresa pela atenciosa equipe do hotel, comandada pelo CEO (Chief Enchantment Officer, na interpretação do hotel) Felix Jorge.

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