É onde troncos tortos projetam a sombra de seus galhos no chão esbranquiçado por sal e argila, em um contraste impactante com a duna ao fundo e o céu azul. Não por acaso, Deadvlei (que nada mais é que o leito seco do Rio Tsauchab, cujo fluxo foi interrompido pelas areias móveis), se tornou objeto de desejo de fotógrafos profissionais, como Sebastião Salgado e J.R. Duran. “Passei seis dias fazendo um safári aéreo e jamais vou me esquecer da cena impressionante do deserto chegando até o mar”, conta Duran.
Localizado a 300 quilômetros de Windhoek, Sossusvlei pertence ao Deserto de Namibe, que batiza o país e cobre seu interior de sul a norte. Com estimados 55 milhões de anos, ele é um dos mais velhos e secos da Terra e dono das dunas mais altas do mundo, com cerca de 300 metros. Junto com a outra grande região desértica nacional, a do Kalahari, que avança aos limites de Botsuana e tem mais água e árvores, Sossusvlei contribui para que dois terços do país sejam dominados por áreas desérticas.
Partindo da capital, chega-se a Sossusvlei tanto por ar – normalmente, voando nos teco-tecos que levam aos lodges – quanto por terra (de preferência, em veículos 4x4). Na Namíbia, dirige-se por horas sem ver viv’alma – e, assim, fica clara a baixa densidade demográfica de 2 habitantes por quilômetro quadrado em um território de 850 quilômetros quadrados, pouco maior que três estados de São Paulo. O contraste dos ventos quentes do interior com a brisa gelada do mar provoca neblina no vasto trecho onde o deserto encontra o litoral – e, por vezes, adia ou atrasa os voos pela região.
Cama ao ar livre. Como no deserto quase nunca chove, hotéis como o Little Kulala (diária a cerca de R$ 1.800) deixam a opção de o hóspede dormir em uma cama ao ar livre, no terraço de cada chalé. Me rendi à experiência por duas noites e garanto: poucos prazeres são maiores do que abrir os olhos no meio da noite e se deparar com uma infinidade de estrelas forrando o céu.
Para melhorar, um bom edredom protege do vento do deserto, e quase não há insetos no local. A imersão na natureza fica mais profunda quando, antes de dormir, o jantar é também em meio ao nada: um caminho de tochas leva os hóspedes até as mesas e a fogueira central – onde petiscos, cervejas da Namíbia e bons vinhos sul-africanos são servidos.
Ao acordar, outra surpresa. Enquanto se toma café da manhã na sacada do restaurante do hotel, parece que o safári vem até você: dá para ver órix e cabras-de-leque (springboks), os antílopes mais comuns do pedaço, tomando água na poça a poucos metros adiante. Os bichos posam para zooms potentes nos passeios de cada dia, como a aventura de pilotar quadriciclos, a caminhada em meio ao cânion Sesriem, os voos de balão e a subida nas dunas que levam ao Deadvlei – como a Big Daddy.
Observar as pegadas dos animais na areia é uma das diversões durante o belo trekking de 1 hora em meio ao deserto de Sossusvlei. Só não pare demais no caminho: é preciso pegar as primeiras luzes em Deadvlei para voltar com belas imagens do cartão-postal da Namíbia.