A partir do desembarque no aeroporto de Malé, no trajeto até a sua bolha paradisíaca, é possível ver a muralha que isola a capital. Um isolamento que representa a marcante separação entre turistas e habitantes.
Ainda no avião, a comissária entrega o primeiro indício dessa segregação turística: o formulário aduaneiro. Artigos religiosos, carne de porco e álcool não entram, o que pega de surpresa casais em lua de mel com suas garrafas de champanhe compradas nos free shops das conexões até lá. As Maldivas são um país de governo islâmico e a lei determina que a população, em sua maioria muçulmanos sunitas, não pode praticar outras religiões, comer carne suína e consumir bebidas alcoólicas.
Mas nada disso se aplica aos territórios ocupados pelos resorts. A primeira garrafa de bebida costuma ser presente do hotel, logo no check-in.
A economia das Maldivas, anteriormente baseada na pesca, hoje depende do turismo. O arquipélago recebe anualmente mais de 1 milhão de visitantes, a maioria chineses e europeus. Mais de 60 mil estrangeiros vivem nas ilhas para trabalhar no lucrativo setor. A escassez de combustível e alimentos e a dificuldade geográfica de abastecimento fizeram muitos hotéis criarem uma cultura quase de subsistência, com plantações orgânicas.
O governo enfrenta obstáculos para a formulação de políticas públicas – uma vez que a justiça está subordinada à sharia, a lei islâmica – e estratégias de desenvolvimento, principalmente em um cenário de constante instabilidade política.
Em 2012, acusado de corrupção e terrorismo, o presidente Mohammed Nasheed foi obrigado por militares a renunciar após várias semanas de protestos instigados pelo ex-ditador Maumoon Abdul Gayoom. No ano seguinte, o meio-irmão de Gayoom, Abdulla Yameen, foi eleito presidente. Em março de 2015, o ex-presidente Nasheed foi condenado a 13 anos de prisão, em um julgamento que a ONU considerou injusto. Poucos meses depois, o vice-presidente foi preso por arquitetar o assassinato de Abdulla Yameen, colocando o país em alerta, e proibindo a circulação de pessoas entre as ilhas.
Nas calmas águas turquesas das pérolas do Índico, fora do muro, tudo parecia igual.
Saiba também! Calcule entre US$ 150 e US$ 200 por dia para gastar com refeições, pensando em almoço e jantar. Os resorts oferecem pacotes com meia pensão ou pensão completa, mas veja sempre quais restaurantes estão incluídos.