CHINCHEROS - Perto do céu, quase acima das nuvens, Chincheros conserva intacta a tradição têxtil andina. Lá, a 3.762 metros de altitude, encontra-se o que há de melhor em artigos de lã. E mais: você tem a oportunidade de acompanhar passo a passo a confecção de gorros, agasalhos, cachecóis, tapetes e toalhas de mesa, desde a raspagem do couro de lhamas, alpacas, vicunhas e ovelhas até o processo de coloração e fiação das peças.
Evangelina Kusiwaman Cusicuna lidera a comunidade de 15 mulheres da Textileria Urpi. Elas trabalham cerca de seis horas por dia na confecção dos produtos e levam até um mês dedicando-se a uma única peça.
As mulheres de Chincheros preservam a ancestral tradição de tosar, lavar a lã com saqtana (planta chamada de ‘xampu inca’), trabalhá-la com a pusca (tear), ajustá-la e arrematá-la com o ruki (ferramenta obtida de um osso de lhama). Para tingir as peças, apenas recursos naturais: insetos, folhas, flores, frutos, tubérculos.
Fixam as cores cozinhando os fios com sal, pedras vulcânicas e limão. Meia hora de fervura basta. Simples. De quebra, Evangelina ensina os incautos a identificar a qualidade das peças. Um aprendizado valioso, tendo em vista que o apelo dos artigos de lã vai acompanhá-lo por toda parte.
Arco-Íris. A bandeira colorida, hoje associada à comunidade gay, é na verdade o pavilhão histórico dos povos andinos. Por isso, tremula por todos os cantos, especialmente em Cuzco. Apreciadores contumazes da natureza, os incas também cultuavam o arco-íris. Em Chincheros, aliás, havia um templo dedicado ao fenômeno natural, transformado depois da chegada dos espanhóis na Igreja de Monserrat.
Processo natural. Veja abaixo de onde vem cada cor; o limão é usado quando se quer obter tons mais claros.
Cochinilla (inseto do cactus): vermelho
Eucalipto: verde escuro
Qolle (flor): amarelo
Kilko: amarelo ouro
Maíz morada: roxo
Tara (semente): marrom
Queuña (casca de árvore): marrom claro
Taruy (flor): azul
Chilca: verde-oliva
Musgo: laranja
Saqtana (xampu inca): planta usada para lavar a lã