Trilha para conhecer a plantação de cacau

Passeio em meio à Mata Atlântica mostra técnica que venceu a praga vassoura-de-bruxa

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Por Monica Nobrega
Atualização:
Fruto, amêndoas fermentadas, amêndoas secas: as fases de beneficiamento do cacau. Foto: Mônica Nobrega/Estadão

Por pouco não desistimos do passeio. A estradinha enlameada pela chuva forte da manhã ameaçava impedir o avanço do carro. E olha que mal faltava 1 quilômetro entre a porteira e o terreiro da Fazenda Bom Jesus, onde éramos esperados pelo Galego, o funcionário que nos receberia para um tour pela produção orgânica de cacau. 

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A Bom Jesus fica em Una, um dos quatro municípios da Costa do Cacau. O cultivo do fruto começou na região na década de 1930, e os cacaueiros dominaram uma área costeira de cerca de 180 quilômetros. Essa economia chegou ao seu auge na década de 1950, mesma época em que o escritor Jorge Amado publicou o romance Gabriela, Cravo e Canela (1958) e outros livros que retrataram o estilo de vida dos barões do cacau.

Na década de 1980, a praga agrícola conhecida como vassoura-de-bruxa dizimou boa parte dos cacaueiros, a produção entrou em declínio e derrubou o preço das terras. Muitas foram compradas por estrangeiros. Nos últimos anos, a praga vem sendo derrotada e o cacau retoma, pouco a pouco, a importância. Em 2015, a região exportou o fruto pela primeira vez em mais de 20 anos.

Para além da fabricação de chocolate, que continuou a ser feita com cacau importado, os produtores da região vêm se organizando para reforçar o fruto como atrativo turístico. Em julho, durante o 9.º Festival Internacional de Chocolate e Cacau, em Ilhéus, foi anunciada a criação da rota turística Estrada do Chocolate, prevista para começar a funcionar no verão. 

Secagem das amêndoas de cacau na Fazendo Bom Jesus, Una. Foto: Mônica Nobrega/Estadão

Entre sabores. Com o guia Edson Carvalho, cheguei à Fazenda Bom Jesus ainda debaixo de chuva – o normal para o fim de junho. A seca começa agora, em setembro. Galego forneceu galochas, e a visita começou pelo galpão onde as amêndoas são retiradas de dentro do cacau e colocadas para fermentar, antes da secagem. Há dezenas dessas sementes dentro de cada fruto, recobertas por uma polpa carnuda cujo sabor lembra a fruta-do-conde. 

A degustação teve mel de cacau (R$ 25 a garrafa de 500 ml) e um tipo de suco feito com a fruta, além de banana e coco secos. Tudo colhido na fazenda de produção orgânica. A Bom Jesus é uma das 33 propriedades que integram a Cabruca, a Cooperativa dos Produtores Orgânicos do Sul da Bahia. Cabruca é o nome da técnica de cultivo que consiste em plantar em meio à Mata Atlântica, sem desmatar. 

Neste ponto da conversa já estávamos caminhando pela propriedade, passando pelas plantações de pimenta e baunilha que se intercalam aos cacaueiros e rindo da possibilidade de escorregar na terra úmida. Galego parou para mostrar como se faz um enxerto, o processo de implantar um ramo de cacau mais forte geneticamente em outro cacaueiro mais vulnerável. Foi principalmente esta técnica que derrotou a vassoura-de-bruxa – e é por causa dela que são avistados frutos de cacau de cores variadas, amarelos, vermelhos e roxos, brotando no mesmo pé.

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À medida que nos embrenhamos em fila indiana pela Mata Atlântica, o ar foi ficando mais fresco e aromático. Até que paramos como quem para diante de uma divindade. Com estimados 30 a 40 metros de altura e 250 anos de idade, uma majestosa gameleira marca o fim da trilha. 

A árvore é tão bonita, tão gigantesca e imponente que emociona. Escalei algumas raízes para chegar mais perto, sentir a textura da casca, o cheiro da chuva. Por pouco não desisti de sair dali. 

Gameleira encerra a trilha pela Mata Atlântica na Fazenda Bom Jesus. Foto: Mônica Nobrega/Estadão

Outras fazendas para conhecer a produção do chocolate

Consulte a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) para informações sobre fazendas de cacau abertas à visitação: (73) 3214-3000.

Cepec. O Centro de Pesquisa do Cacau integra a Ceplac e oferece um tour guiado detalhado sobre cultivo de cacau e produção do chocolate. Dura 1h30 e é gratuito – agende se o grupo for maior do que dez pessoas. Atenção aos horários: de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 10h30 e das 13h30 às 15h30. Atrasos não são tolerados: (73) 3214-3000.

Técnica do enxerto fortalece geneticamente o cacaueiro e faz nascer frutos de cores variadas na mesma árvore. Foto: Mônica Nobrega/Estadão

Fazenda Yrerê. Na rodovia Ilhéus-Itabuna, apresenta o processo produtivo, tem degustação e loja. Abre aos fins de semana;  R$ 30 por pessoa: (73) 3656-5054.

Fazenda Provisão. Tem tour, trilhas e hospedagem. Passeios ocorrem de segunda a sábado. Fica na rodovia Ilhéus-Uruçuca. Agende no site. 

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