Um toque de cor

As auroras boreais já chegaram e, nesta temporada, estão acompanhadas de um vulcão em erupção. Entre geleiras e campos de magma, a ilha da cantora Björk é um espetáculo ao ar livre

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Por DANIEL NUNES GONÇALVES e REYKJAVIK
Atualização:
Islândia é um dos principais destinos para quem quer ver as auroras boreais Foto: Lucas Jackson/Reuters

A aurora boreal e um vulcão em erupção nos mesmos espaço e tempo. Existe um lugar onde é possível ter as duas experiências exatamente agora: a Islândia. Desde agosto, o Holuhraun tem cuspido lava incandescente para fora da cratera, avermelhando o céu sobre a brancura absoluta de campo gelo que o rodeia, o Vatnajökull, maior glaciar da Europa.

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O Holuhraun é vizinho do Bardarbunga, que tem levado a fama e é, sim, o causador da erupção. Mas a lava que brotou dele seguiu por um canal subterrâneo e acabou vindo à superfície no vulcão vizinho.

Vista de longe, a ressurreição ganhou uma aura mágica em algumas noites de setembro, quando as primeiras auroras boreais da temporada deram o ar da graça. Luzes verdes, brancas e roxas têm sido vistas dançando nos céus islandeses, levando ao êxtase os viajantes.

Essa remota ilha do Atlântico Norte, que fica a 3 horas de voo de Londres, já está acostumada com shows da natureza. No verão, entre junho e agosto, ela é a terra do sol da meia-noite, com alguns dias sem um minuto sequer de escuridão. Seu clima sempre mutante faz com que os arco-íris - por vezes, duplos - sejam algo corriqueiro: podem surgir despontando perto de um gêiser e tocando de volta o solo em uma praia de areia negra onde se pode recolher cacos de gelo como se fossem conchinhas. Agora, quando o inverno se aproxima congelando lagos, as auroras passam a colorir noites cada vez mais longas.

Até recentemente, pouca gente viajava para essa ilha de geografia particular, onde hoje é possível sobrevoar crateras fumegantes, fotografar nuvens em forma de borboletas verdes à noite e caminhar em glaciares que cobrem 15% da ilha, que tem ainda mais de 20 vulcões ativos. Isolada da civilização até o século 9º, quando os primeiros colonos noruegueses se estabeleceram e abriram caminho para imigrantes vikings e celtas, o lugar desenvolveu uma cultura peculiar.

Por séculos a economia e a alimentação foram baseadas na pesca, as casas de pedra tinham cobertura térmica de turfa e os islandeses enfrentavam seus longos e tenebrosos invernos recolhidos, contando lendas medievais e recitando poesias dos Eddas, conjunto de lendas que fazem parte da tradição oral do país. Dominada pela Dinamarca desde 1380 até conquistar a independência, em 1944, a Islândia abriu a economia nos anos 1990 e enriqueceu.

Até que veio a kreppa (crise financeira). Em 2008, a bolha sobre a qual a Islândia baseou seu forte sistema financeiro explodiu como um vulcão. Os três maiores bancos do país quebraram e o desemprego subiu às alturas das auroras boreais escandinavas. Até McDonald's e Pizza Hut de Reykjavik fecharam suas portas. A crise que assolaria boa parte da Europa interrompeu insclusive a construção da casa de ópera Harpa. O desemprego cresceu vertiginosamente e as antes irrisórias taxas pagas pelo aquecimento das casas disparou.

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Retomada. Sete anos depois, a quebradeira já é vista como coisa do passado. A prosperidade econômica vem sendo retomada aos poucos. E o turismo tem contribuição importante na nova fase. "Antes da crise, não nos víamos como um lugar turístico", conta o guia Magnus Johannsson, que adotou o segundo ofício de orientar turistas quando não está trabalhando como pintor de casas. No último verão, foi ele quem trocou de preto para branco a cor do lar de ninguém menos que a cantora Björk, personalidade mais famosa do país.

Mais que a artista, quem difundiu a beleza da Islândia foi Eyjafjallajökull, o vulcão cujas cinzas pararam o tráfego aéreo europeu em 2010. "Publicidade ruim é melhor que nenhuma publicidade", diz o prefeito de Reykjavik, Dagur Eggertsson, que viu o número de hotéis, antes escassos, disparar para 40. Nos últimos dez anos, a quantidade de viajantes mais que dobrou no país. Em 2013 foram 781 mil. "Decidimos mostrar ao mundo que as pessoas são bem-vindas", diz.

O fluxo de visitantes brasileiros também aumentou. "Em 2013, a procura pela Islândia cresceu 40%", diz o CEO da Teresa Perez Tours, Tomas Perez, sobre sua operadora. "São clientes que já conhecem a Europa e são fascinados pela natureza", diz.

Os islandeses, por sua vez, expandiram os negócios. O fazendeiro Knútur Ármann, que tinha uma estufa de produção de tomates em sua Fridheimar Horsefarm (fridheimar.is/en), decidiu abri-la à visitação e exibir seus cavalos, outro orgulho islandês. Os cavalos e tomates atraíam 900 turistas em 2008, e 50 mil em 2013. Foi preciso até abrir um salão para servir suco, sopa e geleia de tomate - além do licor de björk, outro nome para birch, árvore nativa da ilha.

A operadora Teresa Perez organiza roteiros personalizados para a Islândia (www.teresaperez.com.br). O programa de 8 dias sai por, no mínimo, 7.258 (parte terrestre). Veja mais pacotes em blogs.estadao.com.br/viagem

Para garantir que os viajantes não percam a aurora boreal, hotéis do interior da ilha, como o Rangá (hotelranga.is), a 100 quilômetros da capital, oferecem a opção de acordar os hóspedes na madrugada para que vejam as luzes

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