Utrecht

Formas e cores puras

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Por Monica Nobrega
Atualização:
Utrecht Foto: © 2018 Artists Rights Society (ARS), New York Beeldrecht, Amsterdam

Encostamos as bicicletas numa parede qualquer – “nem precisa do cadeado, não acontece nada”, assegurou Jitte Rosendaal, o guia daquela tarde – e descemos para admirar e fotografar um exemplar gigante da Cadeira Vermelha e Azul. A réplica estava ao lado do Velho Canal, no meio da rua com calçamento de tijolinhos no centro de Utrecht, quarta maior cidade da Holanda com 300 mil habitantes e segunda parada no país. Retomamos a atmosfera medieval ali, sim. Mas o design continuou no centro das atenções. 

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Ah, as bicicletas. Elas fazem parte da vida dos holandeses, quase como uma extensão do corpo. Em Utrecht, foram nosso meio de transporte para circular pelo centro histórico, ir e voltar do hotel, a 3 quilômetros de distância, sair para almoçar e jantar, visitar o Museu Central e fazer o tour guiado, cujo tema era o movimento artístico De Stijl, que completou 100 anos em 2017.

De Stijl reuniu um grupo de artistas interessados na pureza das linhas arquitetônicas, nas formas geométricas simples e na funcionalidade. Em muitos aspectos, foi parecido com a escola alemã Bauhaus, da qual, inclusive, foi contemporâneo. A redução da cartela cromática a cores primárias – azul, vermelho e amarelo vivos, além do preto e do branco – é sua característica mais marcante. Falar de De Stijl é falar dos retângulos e quadrados brilhantes do pintor Piet Mondrian (1872-1944).

Centenária. A Cadeira Vermelha e Azul foi criada por outro dos integrantes famosos do movimento, o designer e arquiteto Gerrit Rietveld (1888-1964), que nasceu e morreu em Utrecht. Foram as criações de Rietveld que conduziram nosso tour artístico pela cidade.

O Museu Central tem a maior coleção do designer no mundo, inclusive uma preciosidade: a Vermelha e Azul na sua versão original, só de madeira, sem pintura, que é como ela primeiro veio ao mundo, em 1918 – está completando 100 anos neste 2018, portanto. A pintura colorida só foi aplicada cinco anos depois, em 1923. 

Outros móveis criados por Rietveld estão expostos no Museu Central em interessantes e contrastantes arranjos com quadros franceses e holandeses da segunda metade do século 19 e primeira metade do século 20, pertencentes à coleção de uma certa família Van Baaren. Ficam assim até o fim de 2019. 

De bicicleta, seguimos entre canais e depois por dentro do belo Parque Wilhelmina, do século 19, até uma área residencial, cerca de 3 quilômetros a leste do centro histórico. Na década de 1920, esta era uma área nas franjas da cidade. 

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Aqui, a socialite Truus Schröder (1889-1985) encomendou a Rietveld uma casa. A construção, entregue em 1924, virou patrimônio da Unesco tanto pelo design quanto pela funcionalidade de seu interior. As paredes se movem para adaptar os cômodos aos vários usos do dia. A Casa Rietveld Schröder está aberta a visitas, com agendamento. Dica: a lojinha tem bons livros sobre a arquitetura do período. 

Outra criação de Rietveld, conhecida como Casa do Chauffeur (do motorista) está perto, no número 20 da Rua Waldeck Pyrmontkade. É de 1928 e sua fachada em módulos, de tão afinada com os retângulos, cores e retas do movimento De Stijl, parece muito com um quadro de Mondrian.

Utrecht Foto: Gabriela Biló/Estadão

Para ver mais em Utrecht

Canais  Como Amsterdã, mas em menor escala, Utrecht centra a vida do dia a dia em torno dos canais. O Velho e o Novo são os canais principais; margens rebaixadas ao nível d’água recebem as mesas de restaurantes e bares e propõem, assim, uma experiência bem diferente de convivência com os cursos d’água. Passear pelas águas é indispensável – e você pode fazer isso em barco aberto, fechado, ou até de stand up paddle. Desde 20 euros. Dom Tower  Com 112 metros, é a torre de igreja mais alta da Holanda. Lá do topo, depois de subir os 465 degraus (pelas escadas, não há elevador), tem-se uma bela visão panorâmica da cidade. A meio caminho, aos 50 metros de altura, estão os 14 sinos. Ingresso a 9 euros.Tour de bicicleta  A muito holandesa cultura da bicicleta é forte em Utrecht. Vale a pena se encaixar em passeios guiados para interesses específicos, como o passeio focado em comida da Colorbike. O city tour clássico pelo centro histórico recomendo que você faça por conta própria: alugue a bike no seu hotel ou em lojas do centro e perca-se.

Utrecht Foto: Gabriela Biló/Estadão
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