Eu própria sou parte dessa geração, ao que parece. E por isso decidi falar sobre ela, porque me tem parecido - experiência empírica, própria ou de gente próxima - que essa geração tem uma coisa bastante grave em desenvolvimento, e que a longo prazo será um flagelo social: a falta de lealdade e de seriedade para com os que os rodeiam.
Nessa onda da 'meritocracia' e do 'vale tudo', da ambição desmedida, do ter que ter porque todo o mundo tem, já vi muito boa gente fazer coisas, em termos profissionais, que fariam os defensores da meritocracia séria dar voltas no túmulo.
- A competição deixou de ser saudável. Para esta geração, a competição não é mais sobre cada um se superar, mas sim superar o outro. E importa pouco como essa superação é conseguida: não importa se temos que passar por cima de pessoas, se temos que tirar o tapete ao colega do lado que sempre nos ajudou, se mentimos ao nosso chefe, se mentimos ao cliente. Para ser o melhor, para ganhar mais, vale tudo;
- Cada um acredita que merece sempre mais, desde o início. Já vi estagiários chegando e pedindo um salário de diretor, porque tem "formação superior em várias áreas" e sabe tudo sobre a vida. Ainda que não tenha qualquer experiência de trabalho. Começar por baixo e ir merecendo um salário melhor não é uma coisa óbvia para essas pessoas: a ideia nem faz sentido;
- A lealdade acabou. Lembra aquela coisa de a gente lembrar do nosso primeiro chefe, ou daquele que nos abriu portas? De a gente respeitar e entender que desafios e oportunidades nos foram dadas e agir em conformidade, nomeadamente sendo sempre verdadeiros e leais para com aqueles com quem trabalhamos? Pois é, acabou. Agora, eu não posso me sentir infeliz no trabalho por mais de três dias; me indigno se o meu chefe não faz as coisas como eu acho que deve fazer; acredito sempre que sei mais do que quem é meu superior - e sim, às vezes é verdade - e não me importo de mentir para ele na hora de ir embora: "Ah, sabe? Vou pensar na minha vida, não sei se essa área é para mim..." Quando você dá conta, a pessoa está na concorrência, num trabalho que muitas vezes arranjou quando ainda trabalhava para você. É um problema, isso? Em si, não. Mas não seria mais correcto falar: "Olha, eu gostei de trabalhar com você mas quero experimentar outra coisa"?
- A prepotência é gritante. Outro dia soube de uma situação hilária. O diretor de uma menina perguntou para ela sobre três tarefas que tinha pedido para ela fazer há uns dois dias. Das três vezes ela respondeu que não tinha tido tempo. À terceira, o cara perdeu a paciência e disse algo como "mas você nunca tem tempo para trabalhar?" e voltou costas. Pessoa com bom senso fica triste e manda bala no que tem para fazer. Essa não. Levantou junto, entrou no gabinete do diretor sem pedir permissão e começou gritando com ele dizendo que ele não tinha "o direito de falar assim, e que se tinha algo para lhe dizer, que dissesse logo". A história não só é verdadeira como não é única. Perdemos o senso de hierarquia e de respeito.
- A ambição, quando descontrolada, ("Desejo veemente de poder ou do que dá superioridade" in Dicionário Priberam) é também conhecida por avidez ou cobiça. Muitas vezes, faz você perder a noção entre bem e mal. Entre correto e errado. E tantas vezes quanto essas, ela vai acabar por ser prejudicial, em algum ponto do caminho. Porque, sabe uma coisa, você da geração Y? A famosa expressão what goes around comes around, também conhecida por karma (no seu significado budista) é usada ao longo desses séculos todos por alguma razão: é que ela realmente diz a verdade. Mantenha isso em mente.
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