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Das sete colinas lisboetas direto para São Paulo

Opinião|Contra o isolamento social, descobrir vinhos nacionais

Como já aqui escrevi, Portugal decretou seu primeiro Estado de Emergência no dia 18 de março - há precisamente três meses. Depois de mais de um mês vivendo totalmente fechados em casa, e saindo apenas para fazer compras de mercearia ou farmácia, fomos reduzindo o nível de confinamento. Mas nesse momento ainda vivemos em Estado de Calamidade, o que significa que há já lojas e serviços não essenciais de portas abertas, mas que ainda vivemos com regras [que deviam ser ainda mais] apertadas de convivência social: máscaras obrigatórias em lugares fechados, desinfeções constantes em espaços comerciais e públicos, lotações reduzidas em restaurantes, padarias, cinemas...nada de baladas, nada de festivais de música, enfim.

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Atualização:

Daí que, passando tanto tempo em casa, a pessoa precise continuar encontrando formas de passar o tempo, quando termina o dia de trabalho, não é? E é aí que o vinho pode se revelar um incrível aliado - até porque tem como encomendar online ou comprar no supermercado, não é? Em Portugal, como já escrevi aqui algumas vezes, o vinho é tremendamente barato para a qualidade que tem. Facilmente você encontra um vinho de 3, 4 ou 5 euros (entre os 17 e os 29 reais) que pode levar para um jantar sem envergonhar ninguém. Mas tem alguns incríveis por menos de 40 euros uma garrafa (que é o preço pelo qual você compra um vinho francês razoável, por exemplo).

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Se, por um lado, é uma tragédia para a economia nacional que os vinhos portugueses sejam tão baratos, por outro lado é ótimo para o bolso de quem os vai comprar - num país onde o salário médio continua sem conseguir subir para lá dos 900 e pouco euros (5 340 reais, ao câmbio dessa segunda-feira, 22 de junho de 2020). Bom, durante os dias em que estive fechada em casa - e durante esse tempo em que continuo, genericamente, fechada em casa - bebi várias garrafas (verdade!), algumas delas de vinhos que nunca tinha experimentado, e outras que foram revisitações. Mas todos produzidos em solo nacional, porque apoiar os nossos é, agora, ainda mais fundamental.

Hoje decidi partilhar convosco cinco dos quais bebi. Importa dizer que eu não sou crítica de vinhos, especialista em vinhos ou nada que se pareça. Sou apreciadora de vinhos, e a minha opinião é apenas baseada no meu gosto pessoal - que continuo achando a melhor forma de escolher um vinho. Cada um deve beber o que gosta. Ponto ?

 

Magma 2018 - Esse vinho é uma maravilha e uma surpresa para quem gosta de brancos. Tinha experimentado uma das primeiras versões desse vinho, produzido na pequenina região dos Biscoitos, na ilha Terceira, nos Açores, há uns anos, e desde então que tinha tentado encontrar mais garrafas. É um projeto dos enólogos Anselmo Mendes e Diogo Lopes, que são apaixonados por aquela região e como a produção é muito pequena, não foi fácil. Esse ano consegui, finalmente, e foi tão bom quanto da primeira vez que o experimentei: é um vinho cheio de sabor a mar, muito fresco, muito leve e que acompanha qualquer prato de peixe ou marisco perfeitamente. Eu o usei, na verdade, para acompanhar carne e / ou queijos, porque para mim ele vai bem com tudo. Pode ser comprado online em www.adegga.com e cada garrafa custa 18,90 euros (112 reais).

José Maria da Fonseca 2018 - Achei esse vinho numa boa promoção - acho que paguei uns 2 euros (12 reais) pela garrafa - e decidi experimentar. Geralmente não tomo vinhos tintos da região de Lisboa ou Setúbal (tirando um ou outro muito especiais) e, portanto, foi com algumas dúvidas que o trouxe. Mas até que é um vinho bem legal para ter em casa. É um tinto bem leve, mas com estrutura suficiente para acompanhar as porções com que decidi experimentá-lo. Uma boa surpresa que posso, sem problema nenhum, ter em casa durante os próximos tempos e para abrir sem sentimentos de culpa por estar gastando demasiado dinheiro em vinho.

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H.O. Horta Osório Wines, Reserva 2016 - Sendo um vinho tinto da região do Douro, no norte do País, estava esperando um pouco mais de delicadeza desse vinho. Abri a garrafa e a deixei respirando durante mais de uma hora, mas mesmo depois desse tempo ele ainda me pareceu demasiado fechado. Tentei esfriá-lo um pouco (tem estado demasiado calor aqui) para ver a reação e consegui que suavizasse um pouco. É um vinho interessante (custa 8,40 euros, algo como 50 reais), que não adorei de cara, mas que acompanhou bem o bife que decidi comer com ele. De qualquer forma, não tenho a certeza se entra para a lista dos meus favoritos. A família Horta Osório começou a produzir vinhos em 2012 e é Pedro Sereno o enólogo que assina os projetos. Vale a pena conhecer o projeto em http://www.hortaosoriowines.com/. Pode ser comprado em algumas garrafeiras online como a https://www.garrafeiranacional.com/ que entrega no Brasil.

Dócil, Niepoort - é um monocasta de Moscatel Galego, uma casta particularmente doce. Como eu não adoro vinhos doces, não me apaixonei pelo vinho. Tive que o esfriar mais do que seria recomendável, mas foi interessante. Os vinhos produzidos pela casa Niepoort são, geralmente, tecnicamente irrepreensíveis. Isso tem a ver com gosto, mesmo. E tal como eu não adoro Sauvignon Blanc (só de regiões muito especiais, que lhe dão uma frescura bem legal), também não fiquei fã desse aí. Cada garrafa custa 15,50 euros (92 reais) e está disponível em algumas garrafeiras portuguesas online, também. Pode tentar através do próprio site da Niepoort (https://www.niepoort-projetos.com/), mas creio que não enviam para o Brasil.

Soalheiro, Rosé (Alvarinho&Pinot Noir), 2018 - Esse foi uma surpresa incrível! Genericamente, eu não gosto de vinhos rosé [foi-me oferecido por alguém que ainda não sabia isso sobre mim...] e abri essa garrafa com uma expetativa super baixa. Mas gente...que vinho!! Aliás, acabei de encomendar outra garrafa para ter a certeza absoluta de que se vai manter na minha lista de preferidos desse ano. As castas funcionam perfeitamente, tem o toque de acidez perfeito, a leveza de um BOM rosé e uma frescura bem interessante. Cada garrafa custa cerca de 11,90 euros (70 reais) e também está à venda em várias garrafeiras portuguesas. A https://www.garrafeiranacional.com/ entrega internacionalmente ?

Opinião por Margarida Vaqueiro Lopes
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