Dez anos depois, as crianças que a mataram não são assim tão crianças mas ninguém sabe bem onde estão. Eram rapazes que viviam num lar para filhos de famílias desestruturadas, que entretanto também foi encerrado por se descobrir que as crianças eram mal-tratadas. A defesa dos menores sempre disse que esse não teria sido um crime de ódio mas sim um "crime de grupo", que só havia acontecido porque os rapazes estavam todos juntos. Que eles, individualmente, não seriam pessoas agressivas, muito menos homicidas.
A verdade é que eles surraram e afogaram uma mulher até à morte, ao invés de chamarem uma ambulância que a pudesse ajudar. Dez anos depois, Gisberta está enterrada em São Paulo, de onde era natural, mas o Porto ainda recorda a violência da sua morte - e no limite, da sua vida: transgénero, imigrante ilegal, prostituta, seropositva, ela é a imagem de muitas pessoas que não conseguem fugir à degradação da vida da noite e da não aceitação social.
Dez anos depois, importaria entender o que mudou na nossa justiça - os rapazes cumpriram penas menores em estabelecimentos de correção - e o que mudou no mundo do preconceito. Porque os números mais recentes - relativos a 2014 - revelam que os crimes contra pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transgénero e intersexuais foram cerca de 200, em Portugal. E esse número será sempre demasiado alto.
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