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Por Daniel Ribeiro - Gente comum em viagens extraordinárias

Só a arte (se) salva

Por Daniel Ribeiro
Atualização:
Escultura de um Imperador romana no Coliseu. Foto: Daniel Ribeiro.

De novo, venho aqui defender a ideia de que viajar é um meio de educar-se. É preciso pensar a arte também além de uma visão elitista e conservadora. Um museu conserva testemunhos históricos de valor inestimável. As obras que sobreviveram à queda de impérios, a guerras civis e étnicas são depoimentos, ainda que mudos, de como as pessoas que a produziram pensavam, de como viam o mundo e em que termos interagiam com ele. É pela arte produzida por um povo, e em muitos casos, somente por ela, que podemos vir a saber até mesmo de sua existência.

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O guia que conduziu meus amigos e eu à cidade de Petra, na Jordânia, enfatizava reiteradamente que a estrada de pedra pela qual caminhávamos foi esculpida pela natureza, pelo vento e pelas águas. Ao chegar na cidade, a primeira visão que temos é o impressionante Tesouro de Petra. Uma escultura de 40 metros de altura feita na pedra. À primeira vista, um castelo, mas a saber, um túmulo. A visita na cidade termina no Monastério, uma nova tumba-castelo de 45 metros de altura por 50 de largura. Se não fosse um túmulo, se houvesse sido um palácio de fato, um templo, um salão de festas, não faria a menor diferença para os 600 mil turistas que visitam a cidade todos os anos. Ninguém está lá pelo que o Tesouro foi, estamos todos ali pelo que ele é: uma escultura de 2300 anos.

"Se um escritor se apaixonar por você, você nunca morrerá". Foto: Reprodução do Instagram.

A histórias que conhecemos foram contadas por artistas. Os textos mais antigos que preservamos e conhecemos são os grandes poemas como a Odisseia, a Ilíada, os Vedas. Nossa memória individual e coletiva guarda de forma muito mais fiel as palavras artisticamente organizadas. Quando não haviam jornais, as notícias e os milagres eram cantadas de povoado em povoado. As Cantigas de Santa Maria foram compostas no século VI e até hoje podemos conhecê-los.  Antes do jornal era a música que levava as notícias.

Se a arte está em risco, todos nós estamos em risco. Se os artistas são impedidos de contar uma história, essa história se perderá para sempre. Está nessa verdade a força dos museus. O legado cultural de um povo é capaz de contar a história do que foi relevante em um tempo passado a ponto de eternizar-se.

Tire a Broadway de Nova York. Acabe com a Disney. Apague toda a arquitetura colonial. Impeça as pessoas de dançarem ou cantarem. Sem arte  não sobra quase nada.

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Muitas vezes a arte completa o que falta na vida. Foto: Reprodução da obra de Teun Hocks.

As Cantigas de Santa Maria, a Ilíada, a Odisseia, os Vedas são relatos de viagens, ou relatos para sobreviver a viagens longas. As viagens são sempre formas de contemplação artística. Seja para absorver uma paisagem, uma arte natural, grosso modo, e mais ainda para viver uma cidade. Se considerarmos a gastronomia, a música, a produção artesanal de bebidas como expressões artísticas, o que fazemos quando viajamos é visitar museus vivos curados pelo próprio tempo.

No Instagram, eu me dedico a outra grande paixão: as línguas. Me segue no 

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