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Grécia: aura inquieta e ociosa em Salonica

Por Fabio Vendrame
Atualização:
Arco de Galério - Fotos: Thiago Momm  Foto: Estadão

SALONICA

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Salonica, alternativa ao estresse ateniense, com nativos que supostamente trabalham em média quatro horas por dia, la dolce vita encarnada, é também Salonica, a inquieta.

Por exemplo, o bar do multiespaço Bord de l'eau (Egnatia, 45), nos fundos de uma galeria comercial, aceso todas as noites. Está na parede: jazz, soul, post, leftfield, astrofunk, future bass e segue, sempre com DJs diferentes. Nos aquários de vidro anexos, alguém da fábrica de design ou do estúdio de comunicação trabalha até tarde. A três minutos dali, o Coo Cafe Bar tem rádio e selo de música próprios. A dois minutos, o Dynamo Project Space, em um antigo depósito, é uma colmeia artística diurna.

O multiespaço Bord de l'eau  Foto: Estadão

Aí está sinalizada, como em vários outros espaços, uma nova Salonica. Em 2014, a segunda maior cidade da Grécia é a Capital Europeia da Juventude. Entre o 1 milhão de moradores da área metropolitana, mais de 100 mil são universitários.

Prefeito desde 2011, Yannis Boutaris, de 71 anos, é mais liberal que muito marmanjo e assusta uma terceira Salonica, visitada pelo apóstolo Paulo em viagem missionária no ano 50, famosa pelas igrejas ortodoxas, religiosa até a raiz. Boutaris apoiou as primeiras paradas do orgulho gay da cidade, tem sete tatuagens, posou de suspensórios sem camisa para uma campanha contra a aids e fala abertamente sobre o seu antigo alcoolismo. De quebra, ataca tabus gregos como racismo, ócio e ilegalidade. Como o uruguaio Pepe Mujica, dispensa regalias oficiais, anda de bicicleta e carro popular. Justo mencionar, em todo caso, que sua família prospera no ramo dos vinhos desde 1879.

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Eixo cultural. Salonica já nasceu como caldeirão cultural. Ao ser fundada pelos macedônios, em 316 a.C., reuniu povos de 26 cidades vizinhas. Foram 23 séculos de urbanização contínua. A própria Via Egnatia, onde fica o Bord de l'eau, está ali há mais de 21. Foi construída pelos romanos, que haviam tomado a cidade, para unir as colônias do império entre o Mar Adriático e Bizâncio. Tinha mais de mil quilômetros e importância estratégica.

A ligação com o Mar Egeu via Golfo Termaico também ajudou e, tanto no Império Romano do Oriente como no Turco-Otomano, Salonica só foi menos relevante que Bizâncio/Constantinopla. A partir do século 15, turcos, gregos, judeus e eslavos começaram uma convivência de meio milênio. No final do século 19, circulavam jornais em uma dúzia de línguas.

A cidade sempre foi uma referência cultural nos Bálcãs, mas falar em uma "nova Salonica" faz sentido porque há um arranque óbvio comparado com décadas anteriores. Quando foi a Capital Cultural Europeia, em 1997, o porto passou por uma revitalização e ali surgiram museus de cinema, fotografia e arte contemporânea.

Grafite na Praça Agiou Georgiou  Foto: Estadão

Depois vieram a Bienal de Arte Contemporânea, o Festival de Documentários, o Crashtest (um festival de curta-metragens para jovens diretores, em abril), e espaços alternativos. São de Salonica, aliás, vários dos principais artistas gregos. De resto, segue forte o Festival Internacional de Cinema, que é um dos principais da região balcânica e em novembro alcança a sua 55.ª edição.

Muralhas bizantinas em Ano Poli (parte alta da cidade)  Foto: Estadão

O melhor da cidade está concentrado em bairros vizinhos como Ladadika, Valaoritou, Centro e Ano Poli, estimulando caminhadas e uso de ônibus, táxi ou bicicletas públicas. Existe um metrô em construção, mas tão lentamente que se consagrou como piada.

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Uma dica para aproveitar Salonica é simplesmente seguir os nativos. Os cafés ali começam a encher por volta das 16 horas para só esvaziar depois das 20. No happy hour local a palavra café é literal: isso significa que são horas largamente cafeinadas, com pouca cerveja, mesmo nos lugares com música eletrônica e clima de bar.

Do outro lado da rua, "salonifique-se" passeando pelos 4,5 quilômetros da orla, que teve quase metade renovada e reaberta recentemente. Compensando a falta de areia e de banhos de mar, sobram bancos e arborização. A gorda Torre Branca, no meio do caminho, é um dos principais monumentos de Salonica, com seis andares de mostra multimídia sobre a história da cidade. / T.M.

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