Por Nathalia Molina*
Uma das primeiras transformações promovidas pela rede Six Senses ao assumir o Botanique Hotel, em fevereiro de 2021, foi desocupar a biblioteca, mantida desde a sua inauguração em Campos do Jordão, em 2012. Não é que os livros na estante já não tivessem mais tanta importância. João Cabral, Clarice e Proust apenas deixaram a antiga sala em que repousavam quase sem serem notados pelos frequentadores para viverem mais próximos deles nas confortáveis suítes e vilas do hotel, indicado para turismo na Serra da Mantiqueira.
"Quando cheguei aqui, aquela sala era pouco usada. Como a gente precisava de um espaço para criar o Alchemy Bar, veio a ideia de distribuir os livros pelas acomodações e áreas do hotel", explica Dominic Scoles, gerente geral do hotel. Folhear um livro perto da lareira ou antes de dormir tornou-se uma atividade mais acessível - saiba mais sobre a minha hospedagem no Six Senses Botanique.
No espaço antes ocupado pelas letras, um novo saber foi incorporado com a implantação do Alchemy Bar, experiência oferecida pela Six Senses em todos os hotéis da marca pelo mundo - a atividade tem 60 minutos de duração. Nela, o hóspede é convidado a produzir os próprios cosméticos à base de produtos naturais, que podem ser aplicados posteriormente em uma sessão combinada no spa. Está disponível também para visitantes no programa The Alchemist Journey, com duas horas e meia de duração, contando o preparo do cosmético, flutuário, esfoliação e massagem holística.
Durante minha hospedagem no Six Senses Botanique, foi uma das atividades de que mais gostei; vê só no vídeo que interessante que é a proposta.
Aprendi a fazer um esfoliante corporal com casca de laranja e um hidratante à base de banana. Os ingredientes vêm diretamente da cozinha, como parte do reaproveitamento de produtos que não são mais utilizados para o consumo alimentar. "Depois de fazer o suco do café da manhã, secamos a casca e trituramos até virar esse pó", conta Lincon Alves, o guia durante a sessão de alquimia e também o responsável pelo Earth Lab, espaço presente em toda a rede Six Senses para a adoção de práticas sustentáveis.
Ainda que o resultado final seja um produto a ser usado em tratamento corporal, o Alchemy Bar tem grande valor terapêutico. É delicioso poder combinar em doses certas elementos tão corriqueiros e fáceis de se encontrar num mercado, como sal, óleo de coco, aveia e canela.
Soube que muita gente recusa essa parte do processo com medo de se lambuzar com alguns ingredientes. O avental protege bem, e a graça ali está mesmo em se entregar a algo tão novo quanto diferente. Experimente raspar a babosa e depois sinta na pele o resultado da aplicação dela como parte do composto preparado.
Numa das etapas do workshop no Alchemy Bar, colhi folhas de babosa nos canteiros do hotel, localizados logo abaixo da sede. São 370 caixas muito bem cuidadas, onde se encontram de hortaliças consumidas nas refeições a ervas usadas no chá de boas vindas servido no check-in. Em vez de sprays químicos, a horta é toda protegida por inseticidas extraídos de plantas, mais um cuidado com o meio ambiente.
Canudos plásticos já não acompanham as bebidas servidas no hotel, e a água fornecida sem custo aos hóspedes nas habitações é envasada em garrafas de vidro a partir de uma fonte natural da região. Aliás, grande parte do que se consome no Six Senses Botanique vem de produtores locais; entre eles, o sorvete da Eisland, de uma fazenda vizinha ao hotel.
"Não faz sentido produzirmos sorvete aqui se eles mesmos, a 2 km de distância, plantam o milho que alimenta as vacas, cujo leite vira creme de leite, doce de leite e sorvete. É um pequeno produtor que tem excelência no que faz", explica Fernando Brugnera, head de Sustentabilidade do hotel. "Se tem alguém que faça melhor, deixe essa pessoa fazer", resume.
Delicioso piquenique ao ar livre
Os gelatos da Eisland não estão entre os itens do piquenique organizado debaixo de um jatobá mirim, mais uma das experiências que o Six Senses Botanique proporciona aos hóspedes. À sombra da árvore, o cardápio de delícias inclui tábua de queijos, charcutaria, pães, frutas e espumante. Crepes, salada, entre outras comidinhas, podem ser solicitados à parte.
Tudo é servido em marmitinhas de metal ou embalado em papel, em mais um esforço do hotel para eliminar o plástico do dia a dia. E, graças ao inseticida natural, as formiguinhas são atraídas para outro ponto longe da toalha quadriculada. Dessa maneira foi possível contemplar o mar de morros da Mantiqueira enquanto eu saboreava minha taça de brut.
Na onda de piqueniques ar ao livre que tomou conta da hotelaria em geral de um ano para cá, a experiência proporcionada pelo Botanique se destaca porque não se limita a ser uma mera etapa gastronômica dentro da hospedagem, muito por causa da localização agradável à sombra e do conforto da estrutura com almofadas - fiquei quase 3 horas debaixo do jatobá.
Esse bem-estar é sentido em outras atividades, como no café da manhã tomado enquanto se curte o vento suave da serra ou diante da lareira na acomodação. No balançar diante da serra, ou durante alguns minutos de relaxamento na piscina isotônica do spa, com a Mantiqueira novamente no horizonte.
Essa também é a paisagem observada por quem opta pela sauna seca (adorei que tem uma espreguiçadeira dentro). Experimentei a versão a vapor, em uma sala fechada, com pancadas de chuva de floresta tropical em intervalos regulares, precedidas de um som que lembra o de uma tempestade que se aproxima (é um temporal revigorante, bem naquele momento em que o calor começa a ficar insuportável).
O gostoso no Botanique é passear se deixando ser surpreendido, por um par de esquilos pulando de galho em galho ou pelo canto de aves que soam desconhecidas. Enquanto isso, você explora as trilhas dentro do hotel, que tem um belíssimo paisagismo, totalmente integrado às áreas comuns e às construções.
Nodo, a vila onde ficamos em família por duas noites, tem uma banheira diante da cama king, com janelas ao redor. Mas achei muito aconchegante ficar na sala da lareira, onde também foi montada uma cama extra para o nosso filho de 12 anos, Joaquim, dormir.
Quer sentir-se parte da mata? Tem jacuzzi na área externa da acomodação. Na espaçosa varanda próxima à sala, é possível fazer qualquer uma das refeições. Abaixo dela, descubra um balanço de madeira com suingue perfeito para acompanhar horas de uma boa leitura. Opções não faltam .
* Sou jornalista de turismo, escrevo também o Como Viaja e apresento o Como Viaja | podcast de viagem, com dicas e experiências no Brasil e no exterior. Me acompanhe no Instagram @ComoViaja para novidades e curiosidades