Mr. Miles: o prefeito de Paris acaba de reduzir o espaço dos célebres cafés da rue Montorgueil. O que o senhor tem a dizer sobre o tema?Miguel Kostiuk, por email
Well, my friend: a razão pode conduzir os governantes, mas, most of the time, é a falta dela que conduz os viajantes. Há poucos anos, extirparam-nos os legítimos doubledeckers de Londres. Os burocratas, of course, tinham calhamaços de motivos razoáveis para suprimir os ônibus de dois andares de nossa paisagem urbana. A cidade, however, viverá eternamente amputada de uma de suas mais notáveis marcas registradas. É o que se prenuncia, agora, na lovely rue de Montorgueil, em Paris. Tenho todos os motivos para crer que um bando de topógrafos competentes, auxiliado por uma chusma de urbanistas bem-intencionados hajam ceifado a superfície carroçável ocupada por cafés, bistrôs e restaurantes que, há intermináveis décadas, adornam o simpático logradouro parisiense. Que importa, anyway, se a rue de Montorgueil, do jeito que era na prática e no coração de todos que a conheceram, fosse um dos endereços mais visitados de Paris? Os tecnocratas, como todos sabemos, sempre têm razão. Haverá, em Istambul, um grupo de trabalho estudando com afinco a substituição do precário e charmosíssimo Grande Bazar por um magnífico shopping center nos arrabaldes da cidade. Don't you agree? E em Roma, my God, como é que ainda toleram aquelas motonetas trafegando entre fusili e caneloni pelas vielas? Definitivamente é preciso suprimir esse clima de Dolce Vitta que nada acrescenta à Cidade Eterna. E quanto aqueles canais infernais que atravancam a rotina de Amsterdã? Não resta dúvida de que urge criar uma comissão cuja meta seja canalizá-los, com incontáveis vantagens para a fluidez do trânsito e para o erário público. A necessidade do silêncio, I presume, deve ser uma excelente razão para que o alcaide de Salzburgo determine, de uma vez por todas, o cancelamento de concertos e demais audições que entopem os ouvidos dos munícipes com acordes de Mozart. Quem sabe não seja uma boa idéia transferí-los para uma porção erma dos Alpes -- desde, of course, que o Partido Verde esteja de acordo. E o café com churros de Madri? Não haverá um órgão público que, após quantificar o excesso de calorias e gorduras saturadas presentes na tradicional iguaria, resolva proibí-los definitivamente?And so on... que sejam abolidas as práticas anacrônicas como os beefeatears da Torre de Londres, a siesta da Espanha, os tartans escoceses e as gafieiras da Lapa. Que o brave new world cantado por Miranda em a Tempestade de Shakespeare seja um conjunto de normas ajustadas e pertinentes para pessoas que, finally, nunca mais vão querer sair da casa.