SANTA MARTA
Desde a sexta-feira 17 de dezembro de 1830, um relógio de parede está parado - e marca pontualmente 13h03 e 55 segundos. Data digna de ser lembrada, não apenas na Colômbia, como em toda a América Latina. Após liderar movimentos de independência no norte do continente e ganhar status de mito, o general Simón Bolívar morreu, aos 47 anos, no quarto principal da Quinta de San Pedro Alejandrino, histórica fazenda de cana nos arredores de Santa Marta. E o tempo (pelo menos aqui) parou.
Principal atração turística de Santa Marta, a 230 quilômetros de Cartagena, a verdejante propriedade onde o líder revolucionário passou seus últimos 11 dias - recriados por García Márquez no livro O General em seu Labirinto - realmente vale a visita. Um pouco de história não só contextualiza o passeio como faz florescer a imaginação, entre árvores centenárias frondosas, casarões preservados e galpões de moagem de cana.
Doente, Bolívar chegou à região em novembro de 1830, mas perdeu dois barcos com destino à Europa, onde iria se tratar. Sem ter opção melhor, o político e militar venezuelano aceitou a oferta de hospedagem de Don Joaquín de Mier, poderoso fazendeiro local, e, cercado de cuidados, morreu de tuberculose. Uma estátua de mármore imortaliza o herói como se foi, com 1,65 metro de altura, porém pesando apenas 35 quilos. A entrada custa cerca R$ 14 e no site museobolivariano.org.co é possível ter uma boa ideia do lugar.
Crepúsculo. Se puder, visite o centro de Santa Marta ao anoitecer. A essência da cidade de 450 mil habitantes pode ser mais bem percebida quando o dia se vai. Bares colocam mesinhas para fora e algumas ruas do entorno do Parque de los Namorados ficam restritas aos pedestres. É uma delícia ver a juventude local para cima e para baixo, em grupos, conversando e curtindo a música que sai dos restaurantes ou a feita de improviso por músicos reunidos ao acaso.
Restaurantes como o Donde Chucho (Calle 19, 2-7) servem de carne a frutos do mar. Provei um coquetel de camarão saboroso (US$ 5), acompanhado de outra refrescante pedida, também tradicional: a cerezada - suco de limão com cereja (US$ 2) e jeitão de raspadinha de praia. Para algo mais sofisticado, o Rocoto (Carrera 2N, 19-20) serve uma ótima causa, clássico peruano feito com purê de batatas, frutos do mar e guacamole (US$ 15).
Um dia é mais que suficiente para ver o básico. A catedral, erguida originalmente em 1614, teve de ser refeita mais para trás no século 18 em razão do avanço do mar. Bem na frente está o Palácio Episcopal (aberto de segunda a sexta-feira, das 8 horas ao meio-dia), com importantes relíquias religiosas da Colômbia.
Alguns passos adiante, o Museo del Oro (Comuna 2) exibe uma interessante coleção de objetos do povo tayrona, principalmente joias e cerâmicas. Mas o que vale a pena mesmo é ir até a região onde até hoje vivem os descendentes da tribo, o Parque Nacional Tayrona. / F.M.