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Tradição árabe à mesa

As ruazinhas não têm placas, não há numeração nas casas. E por mais que seja fascinante o sobe e desce sem rumo por esse labirinto de cores, sons e aromas, no centro histórico de Amã, é preciso reconhecer que se está perdido. Então anote: Fakhr El-Din. O primeiro jordaniano para quem mostrar o papel fará questão de levá-lo até o local. "Ahlan Wa Sahlan", dirá. Depois, com inglês básico, explicará: "Welcome to Jordan".

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Por Redação
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Não hesite em aceitar a ajuda porque só mesmo alguém que conhece a cidade é capaz de se desvencilhar desse novelo. Ainda com dificuldade. O carro velho passa lento pelas vielas estreitas e para de repente numa rotatória sem solução. Ninguém anda, todos buzinam. O trânsito de Amã é desorientado. Até combina com a paisagem caótica. Pela janela passam casinhas de um branco gasto, coloridas com pashminas, doces árabes e muito ouro, os minaretes da Mesquita El-Hussein, as barracas do souk com especiarias de encher os olhos e perfumar o ar...

O motorista está tentando escalar a seleção brasileira de futebol quando estaciona o carro na porta do restaurante. "Ahlan Wa Sahlan". A saudação, agora, é ouvida à porta da típica mansão árabe. Meu "guia" entra, conversa com a hostess e só vai embora quando estou "a salvo", quer dizer, confortavelmente sentada na recepção decorada com tapetes persas. Nesse ambiente acolhedor, o cheirinho de hortelã é uma pitada da autêntica experiência gastronômica que virá a seguir.

 Foto: Estadão

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A simpatia e a hospitalidade do povo dizem muito sobre a culinária árabe. Basta sentar-se à mesa. O Fakhr El-Din é especialista na cozinha libanesa, a mais requintada da região, e reconhecido pela variedade do mezza (aperitivo). Ai de quem não experimentar cada porção. Ali, a desfeita é considerada um grave haram, ou pecado.

Difícil saber por onde começar. A mesa está completamente tomada pelos pratos frios. Tudo muito farto e colorido. Quibe cru, coalhada seca, homus (pasta de grão-de-bico), babaganush (pasta de berinjela), tabbouleh (salada de trigo), shanklish (queijo de cabra) e até charuto de folha de uva. Para acompanhar, pão árabe, sempre.

 Foto: Estadão

Pensando em não fazer desfeita, o risco é cometer outro pecado, o da gula. Os garçons não param de repor as porções, por isso, vá com calma - ou quando os pratos quentes chegarem você estará mais do que satisfeito. Também será um haram deixar de provar os tradicionais quibe assado, quibe frito, kafta e esfiha. Um alerta: tudo é feito com carne de cabrito, com gosto e tempero bem fortes.

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 Foto: Estadão

Mas os próximos sabores são bem mais exóticos: testículos de carneiro e pardal frito, ambos servidos com azeite de oliva e limão. Para paladares mais conservadores, o menu ainda oferece frango e peixes frescos. Entre uma garfada e outra, não deixe de degustar o arak, uma refrescante bebida alcoólica de origem árabe. É destilada da tâmara ou da uva e aromatizada com anis e outras especiarias. Bebe-se pura, com gelo.

De sobremesa, frutas e sorvete de pistache. Para acompanhar o café, um bocado de docinhos de massa folhada recheados com pistache, amêndoas e nozes. A experiência, porém, só se completa depois do narguilé - eles não apenas decoram o restaurante como também fazem parte do ritual gastronômico. O fumo de maça é bem suave.

À saída, a certeza de que nessa região de discórdias sem-fim a culinária é, sim, um símbolo de identidade. A essa altura, você já terá aprendido a dizer até logo: "Ma'a salameh".   Fakhr El-Din:Jabal Amman, 2nd Circle. Site: www.fakhreldin.com

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