Comparando Berlim e Barcelona, não há dúvidas de que a capital alemã é mais amigável aos ciclistas. Há ciclovias por todas as partes, ora na própria rua, ora nas calçadas - rebaixadas em todas as esquinas. O asfalto liso e as calçadas padronizadas permitem que se possa pedalar tanto apressado, como fazem os moradores, como apreciando a paisagem, o corre-corre da cidade, os grafites. Sem o risco de cair num buraco.
No metrô, existem vagões próprios para transportar a bike, com áreas livres para se encostar com a magrela sem atrapalhar a passagem de ninguém. Dá para perceber que a cultura de andar de bicicleta passa de pai para filho: crianças de todos os tamanhos pedalam nas cilovias ou, quando são pequenas demais para isso, vão em cadeirinhas junto com os pais. Há quem pedale antes e depois da balada, para ir e voltar do trabalho, de salto alto e sobretudo. De cachecol e gorro, no inverno. De bermuda e boné, no verão.
Barcelona tem menos ciclovias (em algumas avenidas, é preciso disputar espaço entre os táxis e ônibus) e algumas ladeirinhas enjoadas - melhor deixar a bike de lado se o destino for o Parc Güell, por exemplo. Mas não há nada que se compare a pedalar pela Barceloneta em um dia de sol.
Além de uma ótima opção de passeio, pedalar na cidade espanhola é também um eficiente meio de transporte. Você desce do metrô e ao invés de pegar um ônibus o que faz? Passa o cartão exclusivo dos moradores (que pagam cerca de 30 euros por ano para usufruir do serviço) e sai pedalando. O programa Bicing oferece bicicletas públicas, com pontos espalhados por toda a cidade. Depois de usar, é só devolver na estação - de Bicing, não de metrô, que fique claro - mais próxima. Literalmente, uma mão na roda.
Depois de um mês usufruindo desta confortável e saudável rotina, voltei a São Paulo, disposta a enfrentar todos os percalços e selvagerias da metrópole para continuar a pedalar. Descobri, por exemplo, que andar de bicicleta no Parque do Ibirapuera à noite é incrível. Tranquilo, sem ser deserticamente perigoso. De quebra, uma bela vista da cidade com as luzes refletidas no lago.
A ciclofaixa, que liga o Parque das Bicicletas ao Parque do Povo, aos domingos, é bacana. Mas insuficiente. Sem nem entrar no mérito de haver poucas horas de apenas um dia da semana para ter a preferência em um pequeno trecho de ruas, só há duas opções para chegar até o início da ciclofaixa: ir de carro ou acender uma vela para o anjo da guarda e andar pelas avenidas. Calçadas? Como enfrentar degraus e buracos, frutos da falta de padronização, além dos carros estacionados? O meio-fio alto também dificulta - e não apenas para os ciclistas, mas também para os deficientes físicos e mães com carrinhos de bebê.
Por aqui, a Porto Seguro também criou sua versão do Bicing de Barcelona, o UseBike. Uma iniciativa louvável e pioneira, mas que esbarra nas dificuldades da falta de estações para devolução da magrela. Merecia mais divulgação, parceiros, estações.
É claro que não dá para destrinchar todos esses aspectos em apenas um post. Em breve, voltaremos no tema. Mas, enquanto isso, respondam: que outras cidades são bacanas para pedalar?