Mr. Miles: qual é, na sua opinião, o pior tipo de viajante?Margareth de Glenn, por email
Well, my dear: não existe, of course, uma escala para medir a qualidade dos viajantes. O que posso, however, é tecer considerações muito pessoais sobre alguns personagens que, vez por outra, encontro em minhas andanças. Você, for sure, já deve ter topado com gente que corresponde à minha descrição, porque, mais que indivíduos, eles são amostras de grupos de comportamento. Mencionemos, ao acaso, o conaisseur. Deveria ser um sujeito louvável pelas informações que possui. O que o torna desagradável, via de regra, é a necessidade de ostentá-las. Descreve em minúcias um altar antes que seus companheiros de viagem tenham sequer a chance de entrar na igreja. Antecipa, com sua erudição, o espanto ou o desapontamento que, in fact, pertenceria aos demais. Unfortunately, conhece tanto que não tem mais ouvidos para aprender. Merece destaque também o viajante desamparado. Pobre cidadão acometido de carências quando longe de seu torrão natal. Está sempre pendurado nos outros, raramente deixa o hotel desacompanhado e, oh, my God, sequer ousa provar da gastronomia local, exceto, of course, quando encontra uma pizza que, anyway, detesta. Se este desperta piedade, há, as well, os que geram irritação. Quem nunca topou com um viajante debochado? Aquele que tem o indisfarçável prazer em fazer troça de tudo o que vê em qualquer destino. "O negócio aqui está precisando de uma reforminha", ri-se, alto, diante da Acrópole ou "Olha só que coisinha minúscula!" gargalha, disgusting, diante do Davi nu de Michelangelo.Yes, darling: ainda que potencialmente renovadoras -- sobretudo para os que partem com o espírito aberto --, nem sempre as viagens impedem que as pessoas extravasem seus piores instintos. Volto a afirmar, however (como já o fiz em alguma de minhas colunas anteriores), que o pior tipo de viajante ultrapassa o limite dessas caricaturas que acabo de fazer. Trata-se de um gênero amplo, de atitudes sorrateiras, sometimes involuntárias, que nunca deixa seu país com a intenção de entender, apreciar ou discutir os hábitos e convicções dos povos que visita. Convencido de que as práticas e ideologias de sua terra natal são superiores, sua intenção é sempre ensinar. Como jesuítas que impingiam a catequese ou como conquistadores disseminando suas normas. To travel, my dear, is to learn. Os que pensam o contrário devem mesmo é cuidar de seu jardim.