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Ele (ainda) é o homem mais viajado do mundo.

Difícil mesmo é envelhecer sem viajar

Um certo Rodrigo escreveu-me. Compartilho minha resposta com os amigos.

Por Mr. Miles
Atualização:

Mr. Miles, pelo que leio o senhor deve ter muita idade. Não é difícil viajar depois de velho? Rodrigo Mattos São Paulo, SP

Well, my friend Rodrigo, a sua sorte é que estou de muito bom humor, porque, caso contrário, eu sugeriria que você consultasse as antigas cartas de sua bisavó, onde provavelmente encontraria referências a um certo viajante inglês que quebrou seu coração. Entretanto, my boy, sou obrigado a confessar que você tem razão. Tenho milhares de anos de vida, porque o destino tem me levado a viver muitas horas a cada minuto, muitas semanas a cada dia e muitos séculos a cada ano. Esta é magia de ser um viajante incorrigível. Cada cidade que conheço me acrescenta seus anos de glória. Cada civilização que desvendo me dá chance de alcançar épocas que os limites da existência jamais permitiriam. Já comemorei aniversários dançando com os núbios e bebendo com os cossacos. Ganhei tantos amigos de presente a cada ano que, a contar por eles, Matusalém seria apenas um adolescente espremendo espinhas no rosto. No, my good Rodrigo, não é difícil viajar depois de velho. Difícil mesmo é envelhecer sem viajar. Conheço muitos cidadãos cujos avós frequentaram minhas mesas ou cujas avós enfeitaram meus leitos que foram acometidos de senilidade precoce. Muitos deles sequer têm quarenta anos, mas a mediocridade de suas vidas e o limite de seus sonhos já os tornaram anciãos, caminhando com a muleta de seus automóveis reluzentes ou respirando por aparelhos que lhes mostram o mundo numa tela de plasma de 40 polegadas. Pelo seu nome, I presume, você deve ter trinta ou quarenta anos. Quase todos os Rodrigos estão nessa faixa etária. Pois aceite uma sugestão desse peregrino interminável: quando lhe deram a vida, my friend, deram-lhe também o mundo inteiro para explorar. É curioso que muitos não percebem essa dádiva e guardam-na embrulhada no fundo de uma gaveta. Estes sim, Rodrigo, têm muita idade e sua única chance de rejuvenescer é redescobrir aquele pacote mofando entre seus guardados. Porque é no mundo que ganhamos que está tudo o que de fato necessitamos: a vida, o conhecimento, os amigos, as grandes paixões, a descoberta. Aqueles que optam por conhecer o mundo não têm idade. Porque eles transformam sua fugaz existência em momentos de tanta intensidade que é como se tivessem vivido desde sempre e para sempre. Que assim seja com você, my friend.

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