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Ele (ainda) é o homem mais viajado do mundo.

Sobre cortesia e hospitalidade

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Por Mr. Miles
Atualização:

Prezado Mr. Miles: quais são as qualidades que o senhor aprecia e quais as que detesta em um hotel?

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Angelina Morganti, por email

 

Well, my dear, that's a nice question. É preciso, however, colocá-la na perspectiva correta. Em alguns lugares, o simples fato de haver um hotel já é qualidade suficiente. O mundo está repleto de lugares remotos nos quais, não importa quanto dinheiro você possua, a única alternativa é uma pequena hospedaria de cinco dólares -- e, nesses casos, quando se chega cansado, você fica até feliz em dividir seu uísque com as baratas. A pior em que já estive, if I remember, ficava em algum lugar remoto do Tchad. Os quartos tinham catres e eram divididos por meias paredes, de modo que era absolutamente inevitável ouvir os ruídos produzidos pelos demais hóspedes. Tentei me distrair com o bulício produzido por um casal apaixonado, mas, no cubículo anexo havia um motorista de caminhão que roncava como um lorry engine. It was really disgusting.

Mas, de volta a sua pergunta, eu diria que o que mais aprecio em um hotel -- além, of course, da variedade de seu bar --, é a hospitalidade e a cortesia. Você dirá que esses são valores óbvios, mas eu lhe asseguro que, em sua forma genuina, ambos são raros de se encontrar. Um hotel hospitaleiro é aquele que você se sente bem recebido assim que chega. Nada de mesuras ou sorrisos premeditados. Os rostos dos serviçais iluminam-se com verdadeira felicidade pela sua presença. O hóspede sente-se como um velho amigo voltando ao lar. No meu caso devo admitir que isso é mais frequente, porque, in fact, estou quase sempre voltando a hotéis que me produziram esta sensação da primeira vez.

A cortesia é uma extensão natural da hospitalidade. Eu diria, my dear, que é como um dom, uma habilidade inata que não se aprende em escolas e que, usually, origina-se de antigos valores de um povo.

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É mais que justo, for instance, que um hotel seja adequadamente remunerado pela hospitalidade que oferece e pelos equipamentos de que dispõe. However -- e agora chego nos valores que me desagradam --, há, nos hotéis modernos, atitudes de franca hostilidade em relação aos seus hóspedes. Senão, vejamos: chaves que precisam ser encaixadas em geringonças na parede para fazer funcionar a energia indicam que, na opinião do hotel, o hóspede é um perdulário por definição. Ora, caríssimos: pois que usem suas teses de eficiência para fabricar parafusos! Don't you agree? E o que dizer dos estabelecimentos que taxam, com valores espantosos, ligações telefonicas ou o uso da internet? Não seria muito mais cortês e agradável incluir esses valores irrisórios no preço da diária? E esses corredores sombrios de hoje em dia que vão se iluminando apenas quando um sensor capta sua presença?

Seria esta bobagem realmente necessária para qualquer hóspede que não sonhe ser um(a) top model?

Sorry, my dear, mas a tal moderna e frívola hospitalidade não me cativa. Ainda prefiro o velho charme de hotéis como o Hotel Baron, em Aleppo, na Síria, onde tomei fartas doses de whisky com Thomas Edward (N.da R: Thomas Edward Lawrence, mais conhecido como Lawrence da Arábia) e troquei ideias com Agatha (N.da R: Agatha Christie, escritora), ao tempo em que ela escrevia o primeiro esboço de seu Assassinato no Orient Express, no quarto 203. E que ninguém duvide de minha relação cavalheiresca com Agatha, by the way, uma  mulher pouquíssimo atraente. Hoje, unfortunately, os quartos do Baron estão ligeiramente arruinados (embora não tenham sido destruídos nessa awful war que assola a Síria. Mas quando vou a Aleppo para encadernar meus passaportes, ainda fico por lá. E sabe por quê? Porque o bar ainda é excelente...

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