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Arte em toda parte

Aromas de Óbidos, uma vila perfumada

Por Heitor e Sílvia Reali
Atualização:


Portal de Entrada de ÓbidosFotos Viramundo e Mundovirado 

Escritores inspirados revelam passagens secretas para que, até mesmo crianças, possam entrar em um mundo paralelo e mágico: uma toca de coelho, a plataforma de trens 9 ¾, o fundo de velho armário...

E eu que busco voltar à meninice cultivo sempre a esperança, sobretudo em viagens, de topar com uma dessas aberturas e dar com um lugarejo oculto, um caminho secreto.


 

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Assim, mas sem ser só assim, chego em Óbidos, pertinho de Lisboa. Aqui fico sabendo que muito antes de Cristo pisar na Terra, estavam por cá os romanos. Curtiram tanto o sitio que pra ninguém mais entrar, ergueram um muro em volta. E, o nome soava o que era: Opidum - cidadela fortificada.

Séculos mais tarde, o vilarinho cresceu com castelo, igrejas, e um labirinto de ruas e ladeiras. Por fim, aproveitaram até mesmo as paredes externas da muralha, como fundos de algumas casas, ou de uma capelinha onde só cabem dois fiéis ajoelhados, ou até de um solar de três andares.


 


Decido fotografar esse precursor dos puxadinhos antes de entrar na vila. Através do visor da máquina, dou com os olhos no reflexo das águas da fonte que inverte o casario, enquanto a brisa o faz dançar. Epa! De súbito, percebo algo diferente no ar e respiro fundo. Sinto um aroma de ervas frescas tão denso, que quase posso pegá-lo e sair levada pelos ares.


 


Sigo o cheiro - uma mistura de alfazema, cipreste, alfavaca, cravo, e alecrim - e cruzo o portal. Na forma medieval severa da muralha, os portugueses forjaram a alma de Óbidos: sobre a passagem em arco fica uma janela com varanda pra espiar quem entra, rodeada de azulejos com intricados desenhos em azuis, carmins e amarelo açafrão. E, para arrematar dois lampiões como fossem um par de brincos.


 


Óbidos cabe toda numa só mirada! Mas que vejo? Cruzei o Atlântico e estou de volta em casa? É como se estivesse em uma Paraty com ladeiras, escadarias e chaminés, ou numa mineira Mariana com plátanos e oliveiras. Não é para se espantar? A sensação familiar é muito prazerosa. Tão boa quanto o perfume das árvores de laranja, limão e ameixas, que exalam o cheiro das frutas maduras, sem contar trepadeiras de rosas e jasmins que sobem pelas paredes das casas.

Enfim, descubro o ramalhete aromático que me conduziu até aqui: logo cedo as senhorinhas e escoteiros de Óbidos forraram as ruas com ervas para a passagem da procissão da semana santa.


 


Quanto mais caminho sobre as ervas, mais incenso o ar. Pequena e pitoresca, a vila intramuros abriga simpáticos largos com mesas e bancos, cafés, lojinhas, ateliês de cerâmica e restaurantes. E as livrarias onde estão? Pois, ela é renomada como vila literária. A solução foi colocar livros em mercadinhos, bares, adegas, museus, e até mesmo em igrejas. Então, abóboras, melões e garrafas de azeite, viram curiosos aparadores de livros, e nichos de altares fazem às vezes de prateleiras.

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Mais uma surpresa portuguesa (assim mesmo para rimar): um pequeno restaurante com mesas que acomodam apenas duas pessoas, é também padaria. Na mesa maiorzinha, o tampo é dividido com a mulher que faz a massa, com pães crescendo, e com fregueses que têm os cotovelos salpicados de farinha. O forno aquece o espaço, mas melhor ainda é o aroma da massa fermentando e dos pães sendo assados.


 


"Beba a ginja e coma o copinho" convida a placa para tomar a renomada bebida de Óbidos, feita de cerejas cor de bombons, servida num copo de chocolate. É bom? Pergunto só de gosto de ouvir o sotaque da senhora: "É tudo de bom, estô-lh'a dizer, quem bebe quer vir cá mais vezes".

Mas, para uma refeição completa me rendo aos cogumelos assados com queijo cremoso de cabra, arroz de favas e amêndoas, e um 'crocante de bacalhau em jardim verde e azeite d'ervas'.


 


Mais tarde vejo os ramos que agitam o ar nas mãos dos fiéis que acompanham a procissão. Ao entardecer cruzo o portal e deixo Óbidos para trás.

De volta a minha casa, precisei apenas passar pelo jardim para retornar em um estalar de dedos à vila portuguesa: meu pé de alecrim. Mas, não só ele, toda vez que sinto o cheiro bom da alfazema, do cipreste, da alfavaca, e até mesmo do alecrim, os ponteiros do relógio giram ao contrário e eu sobrevoo Óbidos agarrada naquela nuvem de aromas.

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Para saber mais: www.obidos.pt


Onde ficar:

Hotel Josefa D'Óbidos www.josefadobidoshotel.com


Onde comer:

Restaurante Lumen, anexo ao Hotel Josefa D' Óbidos

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Quem leva

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(foto 9139) Acompanhe os autores também no Viramundo e Mundovirado, no facebook viramundoemundovirado e instagram @viramundoemundovirado

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