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Arte em toda parte

Bambas nas cordas

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Por Heitor e Sílvia Reali
Atualização:

 

Sempre encasquetei sobre o porquê da música assoprar com mais intensidade nos ouvidos dos habitantes da Europa Central. Você não concorda? É só fazer uma lista com os maiores compositores, músicos e instrumentistas que viveram e vivem naquelas bandas e conferir os números. Mas, li há pouco uma notícia que me deu uma pista: arqueólogos encontraram flautas feitas de marfim de mamute em cavernas localizadas ao longo do vale do Danúbio. São os mais antigos instrumentos musicais do mundo. Isso significa que os povos daquela região já se aqueciam com a música antes da Era do Gelo! Os caras começaram muito antes! E, como na metade do século 19, alemães, poloneses e húngaros, imigraram para Santa Catarina, por tabela me explica porque nesse Estado, músicos dão de montão.

 

Imigrante italiano em Rio dos Cedros fotos: Viramundo e Mundovirado Foto: Estadão

 

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Minha bagagem musical é muito menor do eu que gostaria. Mas, gosto de música. Muito. Nas minhas andanças por Santa Catarina fiquei sabendo que na bagagem simples dos imigrantes que buscavam reiniciar a vida em terras brasileiras iam poucos objetos de estimação, e dentre eles o item mais importante era um instrumento musical, como acordeões, flautas, violinos e gaitas.

Haviam entre os imigrantes grandes diferenças de idioma, religião, no modo de construir suas casas e de trabalhar a terra, na alimentação, e nos costumes. Mas, em comum havia a paixão pela música. Graças a ela, eles se reuniam para tocar e cantar com os recém-chegados imigrantes italianos, nas varandas e cozinhas das casas, ou nos salões comunitários. Cantar ou tocar só? Nem pensar! Os ensaios eram uma ótima oportunidade pra trocar de partituras à cervejas ou vinhos.

 

Teatro Scar em Jaraguá do Sul foto: Viramundo e Mundovirado Foto: Estadão

 

Esse poder de comunicação entre os homens, vi bem claro e de perto na charmosa Jaraguá do Sul, encravada entre montanhas atapetadas do vibrante verde da mata atlântica. Para ir de um lugar ao outro, sempre é preciso cruzar o rio, onde no finzinho da tarde é hora da cantilena assobiada dos casais de jacus. Do costume dos ancestrais, os músicos dali já haviam formado bandas, quartetos de corda e grupos de coral. Juntaram esforços e construíram um teatro para que todos pudessem se apresentar, além de organizar concertos e convidar orquestras das cidades vizinhas. Não disse que músicos ali dão aos montes? Olhe só o tamanhão do Teatro Scar, com seis andares e capacidade para 800 expectadores!

 

Em destaque o maestro Alex Klein foto: Viramundo e Mundovirado Foto: Estadão

 

É aí que entra Alex Klein, maestro e oboísta gaúcho. Klein acalentava dirigir uma escola onde jovens músicos pudessem mostrar seu talento para profissionais experientes, além de permitir um diálogo mais intenso entre os instrumentistas. Assim, em 2006 nascia em Jaraguá o Femusc, Festival Escola de Música de Santa Catarina.

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Veja só de onde já vieram, nessas doze edições, uma moçada ruidosa e entusiasmada: Armênia, China, Geórgia, Austrália, Cuba, Argentina, Bulgária, Colômbia, Peru, Costa Rica, Porto Rico, Alemanha, Haiti, Zimbábue, Inglaterra, Honduras, México, Malásia, Canadá e Estados Unidos. Este ano o Femusc acontece de 26 de janeiro a 4 de fevereiro.

 

 

 Foto: Estadão

 

É aí que entro eu, pois, virei fã de carteirinha, já estive em seis edições! Posso te garantir que é cativante! Os alunos têm aulas com 80 renomados professores pinçados nas melhores orquestras do mundo, como Alexandre Dossin, Leon Spierer, Rita Costanzi, Pablo Fenoglio, e Cláudio Jaffé, para citar apenas alguns bambas.

Verdadeira Babel musical, em um encontro multicultural. "Existe uma diferença na cultura, nas tradições e na política entre os países participantes, mas, em um assunto não há diferença entre ninguém: é a música, onde todos falam a mesma língua", gosta de reafirmar Klein.

 

 Foto: Estadão

 

Se você quiser seguir meus passos e ouvidos durante o festival, se prepare para uma intensa maratona música. Ali, acontecem mais de 200 espetáculos de boa música, da clássica à contemporânea, com entrada franca, além de concertos nas ruas, lojas, praças, igrejas, hospitais, centro de recuperação contra a droga, postos de gasolina. A gente esbarra com uma apresentação por todo canto e a qualquer hora. O festival vibra ainda por cidades vizinhas como Joinville, Blumenau, Corupá, Brusque, Timbó, Pomerode e São Francisco do Sul.

 

 Foto: Estadão

 

Participar intensivamente do Femusc é também segurar a emoção. Pude ver o violinista carioca Daniel Guedes, com mestrado e bacharelado em Nova York, depois de sua apresentação, deixar o palco e tocar para os motoristas das vans que levam e trazem os alunos, e que não conseguem ver as apresentações. Outra lição ainda partiu dos alunos. Foi quando o armênio Onur Seçki convidou um jovem turco para tamborilar seu darbuka, ou derbake, instrumento de percussão. De repente o milagre aconteceu: armênio e turco cantando e tocando juntos.

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Prá que mais palavras?

 

 Foto: Estadão

 

www.femusc.com.br

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