Heitor e Sílvia Reali
21 de fevereiro de 2019 | 09h30
Café Demel. Como definir Viena em uma palavra? Música, castelos, mas também poderia ser Cafés
crédito: cortesia Café Demel
Legendários, cults, símbolos de uma época, os Cafés de Viena são meca de aficionados por essa bebida, que não desejam apenas degustá-la: querem também enveredar por sua especial cultura
Café Landtmann, um dos mais tradicionais de Viena
crédito: Viramundo e Mundovirado
“Cafés, Cafés, os brasileiros que apreciam tanto esses locais para saborear um bom espresso, sabem que fomos nós, austríacos, que incrementamos esse hábito? E, por acaso conhecem o porquê do grande sucesso alcançado pelos Cafés em Viena?” As perguntas são de Bernt Querfeld, proprietário de um dos mais elegantes e tradicionais templos do sabor, a Landtmann. Localizado em edifício histórico da cidade, e herança de avô e pai, Bernt revela: “Em Viena, no final do século 19, a sociedade era muito erudita, todos eram amantes da música, das letras, da arquitetura, e gostavam de se reunir para compartilhar as ideias que fervilhavam na época, enquanto saboreavam um café. Os jornais eram caríssimos e tinham circulação pequena. Nos Cafés vienenses ficavam à disposição dos frequentadores, e para melhor se conservarem, e todos pudessem lê-los, suas folhas eram fixadas com duas varetas de madeira”. Uma espécie de lan house para se ligar no mundo das notícias.
Café Central. Conhecer as genuínas cafeterias de Viena é uma das motivações que trazem milhares de turistas a capital austríaca
crédito: Viramundo e Mundovirado
Conhecer as genuínas cafeterias de Viena foi uma das minhas motivações e também de milhares de viajantes. Verdadeira instituição, ponto de encontro de músicos, artistas, compositores, intelectuais e escritores, os Cafés são um autêntico microcosmo. A tradição seguiu-se por séculos, e hoje, seja ele clássico, tenha décor art nouveau ou contemporâneo, o que vale ali, acima de tudo, é sua atmosfera. Gemütlich, como Bernt se arrisca a definir, explicando assim a essência de um Café vienense: aconchegante, refinado, dotado de conforto real, de cadeiras que são quase sofás, além de oferecer doces elaborados com ingredientes de alta qualidade. Um deles é a mítica Sacher-Torte, receita criada em 1832 por Franz Sacher, que leva creme de apricot, generosa camada de chocolate meio amargo, e é acompanhada de chantili.
Crédito: Viramundo e Mundovirado
Cafés para todos os sentidos. Dentre os cafés da Rua Kohlmarkt, no coração da capital austríaca, o Demel, há 200 anos, é tido como o templo dos doces vienenses. Ali é possível deliciar-se com a visão das iguarias sendo criadas pelos confeiteiros, konditorei, através de enormes paredes envidraçadas. Outro clássico é o Café Sperl, onde se vivencia uma das mais abrangentes experiências de uma Kaffeehaus vienense: ali são preparados vários tipos de espresso, como o turkischer, servido em charmosa cafeteira de cobre. Já o Café Central, inaugurado em 1868 nas dependências do Palácio Ferstel, tem arquitetura primorosa, com teto de abóbadas, colunas, lustres, e mesas com tampo de mármore. Uma vez lá, prove um kleiner brauner, quase um espresso, ou um Einspänner, com chantili.
Café dasMoebel 4635. Se gostou de algum objeto aqui nesse Café, você pode comprar.
crédito: cortesia dasmoebel
Já o Café Prückel com sua decoração típica dos anos 50, oferece o verdadeiro frühstück, café da manhã vienense, com suco de frutas, geleias, torta de maçã, e aromáticos pãezinhos recém-saídos do forno. No Diglas prove uma das tortas típicas como apfel strudel e repare no efeito encantador de dezenas de xícaras coloridas, colocadas na parede à guisa de arandelas. No Café das Möbel tudo está à venda: desde as xícaras, passando pelo cabideiro, espelhos ou lustres. São objetos criados por jovens designers, expostos em ambiente luminoso e moderno. O antigo jardim de inverno do Palácio Hofburg, cujo pé-direito tem 15 metros, é local aprazível para se deliciar com um bom café, apreciando palmeiras e orquídeas, que se destacam pelo inusitado, sobretudo se estiver nevando lá fora. E, por último, o menor deles, o Kleines Café, criado em meados dos anos 70, como seu nome confirma – ‘pequeno’, apenas uma porta e quatro mesinhas na calçada.
Café Museum
crédito: Viramundo e Mundovirado
Acham que são só estes? Nem pensar! Há muito mais Cafés na cidade. Mas, como ensinou a escritora chilena Isabel Allende: “Não se deve relevar tudo aos viajantes, deixe que eles também façam suas próprias descobertas”. Uma delas poderá ser aquela que irá resultar em mais uma definição para o quase inexplicável caráter dos Cafés de Viena.
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Os Cafés oferecem doces elaborado com ingredientes da alta qualidade, um deles é a mítica Sacher-Torte, muito mais que um bolo de chocolate.
Serviço:
Café Landtmann: D. Karl Lueger Ring 10
Café das Möbel: Burggasse 10
Café Sperl: Gumpendorfer Strass 11
Café Jelinek: Königsegggasse 6
Café Central: Herrengasse esquina com Stauchgasse
Café Prückel: Stubering 24
Café Demel: Khhlmart 14
Kleines Café: Franziskanerplatz 3
Diglas Café: Wollzeille 10
Palmer Haus: Burggaten, eingang Albertina
Mais informações: www.wien.info
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