O título pode até lembrar um daqueles filmes do Cinema Novo, do tipo “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, mas traduz bem o que vem pela frente.
Jujuy, noroeste da Argentina, está se tornando, hoje, meca dos aventureiros por causa de sua natureza autoral bem diferente da nossa. Para melhor localizar no mapa essa Província, pegue a linha do Trópico de Capricórnio que passa perto de São Paulo, siga a oeste e pouco antes de bater de cara com os Andes, pronto! Chegou! Agora se quiser ir mais rápido embarque num dos voos que saem de Cumbica para a capital San Salvador de Jujuy.
A geografia da Quebrada de Humauaca, famosa no mundo inteiro e Patrimônio Mundial da UNESCO, é o que distingue Jujuy. Essa Quebrada é um estreito vale, a 3.000 m de altitude, com 150 km de comprimento, limitado por cordões montanhosos que dão proteção ao vale e uma perspectiva única. As encostas das montanhas têm tonalidades de amarelos, terras, laranja, roxo e verde. Os afloramentos coloridos são testemunhas da evolução da Terra, e indicam a presença de fosseis e minerais. Muitos deles receberam nomes poéticos, como 'Paleta do Pintor', 'Montanha das Sete Cores', Los Colorados, El Horconal. São cenários de grande impacto que exigem silêncio, e fazem dessas paisagens um elogio à natureza. E é exatamente nessa natureza harmoniosa e cativante que entra o diabo.
Entra não! O diabo é desenterrado pelos jujeños no sábado de Carnaval. E durante uma semana a folia corre solta em todos os pueblos. Em todas essas vilas, cujas casas são construídas em adobe e se integram na paisagem, têm nomes sonoros, como Purmamarca, Tumbaya, Mainara, Huacalera, Uquia, Humahuaca, Tilcara, ... Agora imagine nesse cenário, talvez, o melhor Carnaval da Argentina, com blocos carnavalescos que saem pelas ruas, pulando, cantando, jogando talco e uma espuma pegajosa*, se divertindo como loucos, loucos não, como diabos. Aliás, nesse cortejo desenfreado que lembra uma procissão burlesca, a única fantasia é a do capeta e as imagens são de um realismo mágico.
Embarcamos nessa energia. Nos vários lugarejos da Quebrada, fomos atrás das Comparsas, como ali são chamados os blocos carnavalescos, mais familiares, muitos deles realizados dentro das próprias casas. Uma banda de música toca sem parar, e os foliões em fila indiana vão percorrendo todo o espaço da festa em frenesi, como nos bailes de Carnaval do interior do Brasil. Em muitas dessas Comparsas, entramos como penetras, mas a alma hospitaleira dos jujeños nos fez companhia o tempo todo. Silvia e eu caímos na bagunça e no final éramos como membros da família. O Carnaval não é uma festa para todos? Em Jujuy, ele só termina no sábado seguinte, quando os foliões enterram o diabo, para só reanimá-lo um ano depois. E a vida volta ao normal naquela paisagem celestial, mas com um Carnaval dos diabos.
Gosto do novo e como na música Gigante,de BK ... para aqueles que não gostam de avançar, avançar, tchau! tchau! ... Caramba! não é que essa frase daria um bom refrão de uma marchinha carnavalesca?
*Cuidado: muitas dessas espumas são lançadas por um spray que é inflamável
Para saber mais:www.turismojujuy.gov.arwww.argentina.travel
Considere quando ir: Onde ficar Hotel em San Salvador de Jujuy: Augustus Hotel, www.hotelaugustus.com.ar ou Hotel Howard Johnson Plaza Jujuy, www.hjjujuy.com.ar Na Quebrada de Humahuaca, optei por ficar na cidade de Tilcara, no Hotel El Reposo del Diablo, www.reposodeldiablo.com Quartos bem decorados, espaçosos, e muita hospitalidade.
Onde comer Em San Salvador de Jujuy, para uma experiência gastronômica, a pedida fica com o chef Eduardo Arraya, do Los Nogales, RP4, Villa Jardin de Reys, ou Restaurante Callas, www.hjjujuy.com.ar Em Tilcara, nosso restaurante preferido foi o do hotel Reposo del Diablo. Sua gastronomia privilegia produtos regionais como empanadas, quesillos, dulce de cayote, tortilhas al rescoldo, etc Em Purmamarca, a escolha foi perfeita: o Restaurante Tierra de Colores, rua Libertad s/n. Especialidade em assados de cordeiro, de lhama, e pratos típicos locais a base de quinoa, milho e queijo de cabra. Outra boa dica em Purmamarca são os petiscos da tradicional cozinha criolla andina servidos na barraquinha de rua da chef Tere Sarmiento
Compras: A sugestão são ponchos, malhas e tapetes coloridos encontrados nas feiras artesanais dos lugarejos, alguns feitos em teares manuais, em geral com bons preços
Sugestão: As estradas, no Carnaval ficam congestionadas - um percurso de 50 km pode durar mais de três horas - portanto para não perder tempo curta o Carnaval na cidade que escolher
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