Se tem uma coisa que me deixa totalmente desconfortável na África é comer na frente de crianças. Foi assim em Gana, em Uganda, nos países que passei rapidamente e sinto que será igual aqui na Tanzânia.
Se você está com um prato de comida, um snack, uma fruta ou um refrigerante e a(s) criança(s) não, espere aquele olhar que atinge lá no peito.
Não dá pra garantir que é sempre um olhar de fome -- apesar de eu achar que se encaixa na maioria das vezes --, rola também uma mistura de curiosidade pelo alimento em questão e pelo fato de um obruni/muzungo estar comendo ali ao lado deles.
Aqui na África, ainda é muito restrito aos mais abonados conceitos como café da manhã, almoço e jantar. A grande massa só conhece a ideia de refeição: cozinha-se uma vez por dia, ou duas, quando há mais alimentos, e come-se em horários não muito bem definidos.
O mais comum é as mulheres cozinharem no fim do dia, quando os maridos estão para chegar em casa. A família come junto e a "sobra" vira refeição para a manhã seguinte. Por conta dessa lógica, sempre que eu perguntava às crianças de Gana e de Uganda o que elas haviam comido antes de irem para a escola, elas diziam (quando tinham comido algo): arroz, posho ou mingau. As mesmas coisas que estavam em seus pratos à noite.
Até hoje, tenho tentato evitar o constrangimento deixando para comer quando não há crianças por perto. Se fica muito difícil, procuro ir pra algum canto fechado.
Achei muito curioso -- e sensato -- quando visitei Kigali, capital da Ruanda, e aprendi que lá é considerado uma grande falta de educação comer na rua. Ainda que seja um snack. Segundo os ruandenses, é indelicado se alimentar em ambientes onde você não sabe se as outras pessoas tiveram (ou têm) algo similar para comer. Eles ainda completam: Quer comer em público? Então tenha o suficiente para dividir com todos ao seu redor.