PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Duas jornalistas caem no mundo unindo duas paixões: viajar e ajudar o próximo. Aqui, elas relatam as alegrias, os perrengues e os aprendizados dessa experiência.

A rotina do voluntariado. Ou o desafio nosso de cada dia

Ser voluntário é abrir o coração, topar qualquer parada, lidar com alegrias e frustrações todos os dias. Minha expectativa era ter uma rotina de aulas com as crianças e, nas horas vagas, visitar famílias de refugiados em suas casas. Caí na real só uma semana depois de chegar à Jordânia.

Por Camila Anauate
Atualização:

Primeiro: não falo árabe, pouquíssimos refugiados entendem inglês, o que significa ter sempre algum local para traduzir o que você fala. Como assumir uma classe? Engatar uma boa e profunda conversa? Segundo: sou voluntária de curto prazo (1 mês), tenho pouco tempo para assumir grandes responsabilidades - e em seguida partir.

PUBLICIDADE

Essas barreiras me fazem sentir mais uma visitante - e eu, assim como outros voluntários passageiros, sou mesmo chamada de guest -, mas não diminuem minha experiência. Pelo contrário: me sinto muito mais útil estando no lugar certo, na hora certa, dando toda e qualquer ajuda necessária.

[gallery link="none" size="large" columns="2" ids="133,139,134,138,137,135"]

Os dias começam às 9 horas com uma reunião na igreja do time de missionários e voluntários, que juntos oram pedindo coragem, paciência e sabedoria. Em seguida, todos se dividem entre os projetos - cada um funciona em uma parte do vilarejo - e seguem as atividades até as 14 horas. Eu tenho liberdade de escolher para onde ir.

No centro comunitário funciona a escola para crianças de 4 a 12 anos. Ali, elas têm aulas de árabe, inglês, matemática, artes e circo. Na verdade, não é uma escola, mas um espaço que prepara as crianças para voltarem à escola quando tiverem um novo lugar definitivo para morar.

Publicidade

O Gera MAIS é um braço do centro comunitário, mas funciona em outro espaço. É um projeto para gerar renda e recuperar autoestima das mulheres - ali elas aprendem uma nova profissão com aulas de costura, bordado e maquiagem, além de inglês. Também se ajudam na dura espera pelo futuro.

A Clínica Esperança, que funciona na igreja, faz atendimento médico e odontológico. A Clínica Fitness ajuda na reabilitação física de mulheres. O Futebol Tocar reúne pelo esporte sírios, jordanianos e iraquianos, muçulmanos e cristãos.

Outro projeto lindo é o ReCreate, que transforma móveis e pneus achados no lixo em sofás, puffs e camas para refugiados. As doações são feitas durante as visitas às casas, também uma atividade diária que voluntários podem participar. Além dos móveis, levamos cestas básicas e fraldas e conversamos com as famílias sobre a dura realidade e suas reais necessidades.

Tudo funciona sob a liderança do casal de brasileiros Homero e Débora, a Família Aziz, que em 2014 se mudou para a Jordânia com a missão de abrir a sede da MAIS (Missão em Apoio à Igreja Sofredora) no Oriente Médio e amparar refugiados que não estavam nos campos da ONU - já contei que na Jordânia apenas 300 mil vivem nesses campos, enquanto outros 2,7 milhões estão espalhados pelo país e dependem da ajuda de organizações como a MAIS.

Homero e Debora implantaram todos esses projetos nos últimos três anos. Foram crescendo o time de missionários e voluntários - hoje são 17 trabalhando em tempo integral, sendo 10 refugiados. "Formar essa equipe significa resgatar a identidade dessas pessoas, trazer de volta a dignidade e desenvolver um trabalho em comunidade", explica Homero.

Publicidade

Hoje, a MAIS atende nos vilarejos de Fuheis e Mahes cerca de 1.600 famílias (1.200 sírios e 400 iraquianos). Mesmo sem falar árabe, mesmo com pouco tempo, é lindo fazer parte disso. Estar em todos os projetos me dá a oportunidade de conhecer, aprender, descobrir. Lugares, pessoas, situações. Eu mesma.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.