O que poderia ter sido mais uma de suas histórias ganhou proporções gigantescas dentro de mim. Virou uma chave. Desde então, tenho como certo de que ainda investiria algum período da minha vida a fazer o bem ao próximo.
Também era claro para mim que este "próximo", no meu caso, não estaria tão próximo assim. Ele só poderia estar na África.
Explico: tenho um profundo interesse pelo continente desde pequena. Lembro de pedir ajuda a meu pai para ver seu mapa na enciclopédia Mirador. Ele me ajudava ainda a escrever cartas às embaixadas da África do Sul e de Angola pedindo material sobre os países. Eu, exageradamente branca, descendente de italianos e portugueses, aos poucos compreendia que devia muito aos povos africanos que foram levados à força ao meu país e moldaram sua cultura -- logo, a minha.
Onze anos após ouvir a história do Tom, senti que havia chegado a hora da minha jornada voluntária. Eu não estava apenas pronta para ela, eu precisava dela. Sentia uma urgência em ajudar, em ter contato com a gente africana e ser chacoalhada por ela. Pensava nesse período como uma especialização em vida, cuja grade curricular me transformaria numa pessoa melhor.
Foram 120 dias de planejamento dessa aventura que vai durar oito meses. No dia 10 de julho, enfim abri mão da rotina, do conforto do lar e da delícia que é ter amigos e familiares por perto e embarquei para Gana, país onde ficarei até o fim de setembro.
Hoje estou em Kumasi, a segunda maior cidade ganense. Aqui fica a Furman Foundation School, escola que elegi para voluntariar como professora. Pesquisei muito sobre o lugar, li tudo o que achei sobre ele.Ainda assim sinto que não sei absolutamente nada dele. Sei apenas que é exatamente aonde eu quero estar agora.