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Duas jornalistas caem no mundo unindo duas paixões: viajar e ajudar o próximo. Aqui, elas relatam as alegrias, os perrengues e os aprendizados dessa experiência.

Contando as gotas

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Por Bruna Tiussu
Atualização:
Na escola, voluntários aprendem a lavar roupa como os locais. Foto: Bruna Tiussu

O Google me disse: o brasileiro gasta, em média, 135 litros d'água num banho de 15 minutos (de chuveiro). Essa quantia é a recomendada pela ONU para o uso de uma pessoa durante todo um dia. É, ainda, 20 vezes o tanto de água que eu tenho usado aqui para tomar um banho (de balde).

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Vale ressaltar que uso um pouco mais de água do que os ganenses com quem convivo. Costumo encher mais da metade de um balde de 10 litros (sobretudo se vou lavar os cabelos), enquanto eles param na metade.

A água é questão séria por aqui. Simplesmente porque não existe em abundância -- tratada então, é luxo. Vejo todo tipo de gente utilizando-a com consciência. Lavar roupas e louças é no esquema duas bacias: uma para ensaboar e outra para enxaguar; lavar pátio ou calçadas, nunca vi fazerem.

A escola em que estou pagou pela instalação do encanamento para receber água. Ainda assim, às vezes ela acaba. Poucos dos nossos vizinhos têm essa mordomia, eles dependem da água de poços, algo bem comum no país. Também não é raro ver por aí torneiras fechadas com cadeado. Precisa de água? Chame o dono e pague por ela.

Outra coisa que se faz muito aqui é coletar água da chuva. As pessoas espalham baldes em frente das casas, dos comércios e mesmo na rua. É balde para todos os lados.

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Kwabena, um aluno da escola, coleta água para a cozinheira. Foto: Bruna Tiussu

O balde de plástico, aliás, foi uma das invenções mais comemoradas pelos ganenses -- e por outros povos africanos. Depois dele, coletar água ficou bem menos penoso. Tanto que passou a ser função das crianças.

Grafite feito durante o Chale Wote Festival, em Acra. Foto: Bruna Tiussu

Na semana passada, o Chale Wote, maior festival de arte de rua da África Ocidental, tomou conta do bairro de Jamestown, em Acra. Seu tema? Wata Mata, um diminutivo de Water Matters. Nomes do grafite, da música, do cinema e do teatro locais mostraram em seus trabalhos a importância de cuidar do meio ambiente para não faltar água para as próximas gerações.

Tive a chance de ir à capital para acompanhar esse lindo festival. E me hospedei num hotel que tinha luxos como cama, espelho e banheiro completo. O que mais me deixou empolgada, no primeiro momento, foi poder tomar um banho "de verdade", lavar os cabelos "de verdade". Mas após 5 minutos no chuveiro, vendo a água escorrer pelo ralo, bateu um peso na consciência meio estranho. Pois é, a África causa esse tipo de chacoalhão na gente.

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