Em Gana senti na pele o desafio diário de racionar o uso da água (leia mais aqui). Aqui em Uganda a água é abundante -- no Amasiko pelo menos, já que estamos na beira de um lago e as chuvas têm sido constantes --, mas a eletricidade não é.
Este canto rural do Sudoeste do país não é todo servido por energia elétrica, apenas em vilarejos maiores vejo postes e fios pelas ruas. Então muitas famílias simplesmente vivem sem eletricidade, enquanto outras se viram com fontes alternativas.
É o caso do Amasiko, que tem um painel solar instalado na casa principal. Esse painel está ligado a uma bateria de 12 volts que é só um pouco maior do que a de um carro.
Isso significa que a energia gerada ali é limitada. Geladeira? Nem pensar. Chuveiro elétrico? De jeito nenhum. TV? Seria complicado.
Em dias de bastante sol todos sorriem, pois podem carregar computadores (o projeto tem dois laptops), tablets (são dois também) e celulares (uns dez, porque todos os funcionários carregam os seus aqui). Também abastecem as luminárias, mas estas requerem pouquíssima energia. Já quando não há muito sol o limite de carga é reduzido, e é preciso escolher quais desses aparelhos carregar.
Daí que cheguei adicionando na rotina do lugar mais um laptop, baterias de uma câmera, um powerbank e um celular. Tive de me adaptar.
O celular, por exemplo, fica sempre no modo avião e a bateria no modo de pouca energia. O laptop eu ligo para resolver tudo o que for possível de uma vez, e nada de enrolar muito. Até ler à noite com a ajuda da luminária às vezes dá um pesinho de consciência.
O processo de adaptação também incluiu o exercício de me acostumar com a escuridão. Nunca tive problemas com ela, mas também não tinha de fazer tanta coisa sem ou com pouca luz.
Andar e subir e descer escadas já está fácil. Ir para o quarto, ao banheiro, escovar os dentes e tomar banho também.
A ausência de eletricidade, por incrível que pareça, ainda proporciona uma alegria extra aqui: numa noite limpa, naquele breu absoluto, olho pra cima e vejo um céu extremamente estrelado, super brilhante. Parece até um desenho. Um desenho que vou sentir falta quando eu voltar para São Paulo.