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Duas jornalistas caem no mundo unindo duas paixões: viajar e ajudar o próximo. Aqui, elas relatam as alegrias, os perrengues e os aprendizados dessa experiência.

Give me money!

Por Bruna Tiussu
Atualização:
A maioria dos alunos é quieta e obediente. Foto: Eduardo Asta

Tenho achado os ugandenses bastante fechados. Pelo menos os daqui do Sul, da etnia Bakiga. Disseram-me que há duas razões para isso: 1. Eles são originalmente um povo da floresta, mais "rudes". 2. Há uma parcela de herança dos colonizadores britânicos em seu jeito de ser: amigáveis, porém na deles.

Tal personalidade também se nota nas crianças. Fico boba de ver como os alunos aqui da escola são comportados. Alguns são tão exageradamente quietos -- uma mistura de jeito e timidez talvez -- na sala de aula que tenho de chegar perto e "abrir" a orelha para escutar o que dizem.

Estudantes fazem fila com cara de fila. Foto: Bruna Tiussu

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Na hora do almoço, eles fazem uma fia perfeita para receber a comida. Não tem dessas de um espertinho querer roubar a vez do outro. Ao final do intervalo, quando estão jogando bola, o professor diz: "Boys, let's go back to the classroom!" E todos seguem seu rumo sem chorar por mais uns minutinhos de futebol.

Isso não quer dizer que não exista neles aquela alegria espontânea de criança. Há, sim. Ela apenas está, segundo o meu entendimento, numa camada mais profunda de sua personalidade. É como se a criança precisasse primeiro sentir-se mais segura e à vontade contigo, para então deixá-la aflorar. Criar empatia, sabe?

Mas há uma coisa que os pequenos dessa região fazem que foge desse script reservado. Basta um muzungo (homem branco) como eu passar diante de uma criança para ela abrir o sorriso e dizer em alto e bom som: Give me money! Give me money!

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Nas ruas ou nos mercados, as crianças já chegam pedindo dinheiro. Foto: Bruna Tiussu

Essa atitude está enraizada na cultura local, provavelmente porque os primeiros estrangeiros (os missionários) a aparecerem aqui de fato davam dinheiro e presentinhos a todos.

O sorriso delas amolece a gente. Mas o pedido incomoda bastante, até porque acaba sendo um atrás do outro. E você percebe que são crianças que não sabem dizer "good morning", "good afternoon" ou responder à pergunta "what is your name?" . Mas já aprenderam a pedir dinheiro a um branquelo.

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