Até os Maasai entraram na dança. Eles eram pelo menos 30% dos presentes na missa da Igreja Pentecostal no último domingo. Isso significa que os missionários também conseguiram apresentar o cristianismo para gente dessa tribo, conhecida pela bravura de seus guerreiros, os últimos a "permitir" a entrada de europeus em suas terras.
Acontece que os Maasai também vivem no século 21. Ainda que mantenham muito do seu modo de vida tradicional -- são pastoralistas, moram em bomas (casinhas de barro), mantêm língua própria, vestem-se com togas e usam dezenas de penduricalhos de miçangas --, eles têm necessidades condizentes com os dias de hoje.
Uma delas é a da socialização. E, aqui no cafundó do Norte da Tanzânia, entre montanhas de áreas protegidas e de parques nacionais, as igrejas acabam cumprindo este papel.
O domingo, o "church's day", é uma saudável quebra na rotina laboral dos Maasai e dos Swahili (os falantes de Kiswahili, com origens tribais variadas). Aguardado ansiosamente, ele merece suas melhores roupas. É lá, na igreja, que as pessoas batem papo, cantam, confraternizam e conversam sobre a comunidade.
Boa parte dos alunos do internato da Bright School também vai à missa. Algumas crianças contaram que apressam para terminar as lições de casa até o sábado para poderem ir à igreja no domingo. Poderem, vejam bem, pois não são obrigados. Essa liberdade chamou minha atenção, porque várias escolas-internato aqui na África meio que consideram a missa uma "tarefa mandatória".
Fiquei ainda mais contente quando vi o professor de ciências ensinando à quinta série o surgimento da vida humana. Eis que a teoria evolutiva estava lá na lousa. Ufa! A criacionista, porém, também. E ambas parentemente com pesos iguais.
Depois da aula resolvi perguntar às crianças o que elas haviam achado das teorias, qual fazia mais sentido pra elas. A melhor resposta foi a de Rachel: "Só sei que eu fui criada por Deus. Mas se olhar bem, o homem é muito parecido com o macaco. Vai ver tem gente que veio mesmo dele." Considerei um começo.