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Duas jornalistas caem no mundo unindo duas paixões: viajar e ajudar o próximo. Aqui, elas relatam as alegrias, os perrengues e os aprendizados dessa experiência.

Mudança de lar

Por Bruna Tiussu
Atualização:
Alunos do internato: tão novinhos e já vivendo longe dos pais. Foto: Bruna Tiussu

Estudar em colégio interno é algo bem comum aqui na Tanzânia -- em vários outros países da África também. As melhores escolas privadas funcionam no esquema internato, e, se a família tem condições de bancar, vai fazer essa escolha para os filhos.

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É de praxe ir para um colégio interno fazer o segundo grau. Ou seja, quando se tem 14, 15 anos. Mas há também várias escolas de primeiro grau que oferecem a opção internato, como a Bright English School.

Por ficar aqui no vilarejo de Loliondo, nos cafundós do extremo norte do país, a escola foi meio obrigada a funcionar no esquema híbrido. Pois muitos alunos vivem tão distante daqui que não teriam como vir e voltar todo dia. E por aceitar certo número de crianças carentes, que não pagam as taxas, a Bright acaba sendo a única opção de famílias que vêm de muito longe entregar seus filhos para terem acesso à educação.

Entregar é uma boa palavra. Logo que aqui cheguei, presenciei um pai trazendo duas filhas para a escola, uma de 7 anos, outra de 5. Ele só vai rever as crianças daqui seis meses, então dá para afirmar que confiou a educação delas aos professores e funcionários da Bright. O que é uma baita entrega.

Eu olhava o pai se despedindo das meninas e tentava perceber se estava sendo muito sofrido para ele. Olhava as crianças e pensava no que estaria passando pelas suas cabeças. Tristeza? Sentimento de abandono? Alegria? Euforia?

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Pode ser um pouco de cada coisa. Ouso dizer, porém, que os pais e as crianças daqui encaram este tipo de mudança e/ou ruptura com uma naturalidade estranha aos nossos olhos. Deve ser algo já enraizado na cultura local.

Com a Upendo, que já tá na lista das favoritas. Foto: Bruna Tiussu

Mês passado chegou também a Upendo, de só 4 anos. Uma criança tão viva e empolgada que psicólogos a diagnosticariam hiperativa. Depois de duas semanas de escola, sua mãe veio visitá-la, trazendo um refrigerante de presente. Upendo abraçou a mãe, pegou o refrigerante e disse: "Tá bom, mãe. Agora já pode ir". Isso pode ter doído no coração da mãe, mas pelo menos ela sabe que a filha não está sofrendo, não.

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