Acontece no trabalho formal e também no voluntário: quando você percebe, já abraçou funções além das que se propôs a fazer no início. Mas no caso do voluntariado, ao invés de ter ares de exploração, o acúmulo de tarefas acaba sendo uma nova chance de ajudar o projeto escolhido.
Pelo menos me senti assim na semana em que me tornei motorista do veículo provisório da Bright School. Quando o diretor viajou com o ônibus escolar para consertá-lo, assumi a direção do seu carro para transportar as kids da casa-pensionato, da vila de Loliondo e de Wasso para a escola. E vice-versa para tudo isso.
Foi uma loucura! Enquanto o ônibus dá conta de todos os alunos em três viagens por dia, no pequeno carro foram necessárias pelo menos oito. Isso porque adotamos o esquema lotação africana -- uma criança no colo da outra, duas sentadinhas entre o banco do motorista e do acompanhante e quatro "acomodadas" no porta-malas. E tiramos da conta as kids maiores do internato, que foram e voltaram da escola a pé.
Além de madrugar -- a primeira saída era às 6h --, comer poeira, ensinar as kids a fazer fila e a não destruir o carro, ainda me desdobrei para dar algumas aulas. Elas já estavam previstas, e eu, confesso, não queria passar toda uma semana (uma das últimas na Bright) longe das salas de aulas.
Apesar de todo o corre-corre e de muito cansaço, senti-me completamente útil. Além do diretor, não há mais ninguém que sabe dirigir. Se não estivesse ali, eles teriam de pagar transporte particular para as kids durante toda a semana, e pagar, aproximadamente, US$ 60/dia -- ou US$ 300/semana. Para um projeto como a Bright, que tem de guardar cada centavo possível, foi uma baita economia. Já para mim, foi mais uma oportunidade de sentir aquela plenitude que todo voluntário busca em sua jornada.