Esta vivência em Gana já me fez ultrapassar vários de meus limites moldados no Brasil. Sanitização, higiene, conforto, privacidade e muitos outros aspectos do dia a dia hoje penso segundo outras perspectivas. Mas há um limite que o país ainda não me fez dar um passo a frente: minha intolerância a baratas.
E olha que Gana tem armas suficientes -- lê-se baratas suficientes -- para me impulsionar a trabalhar esse meu probleminha.
Quando cheguei, não as via com frequência na escola -- hoje, acho que eu evitava procurá-las --, mas em compensação logo reparei numa aranha grandinha que morava no banheiro (banheiro = quadradinho onde tomamos banho).
Como minha quase fobia só diz respeito às baratas, achava até engraçado entrar lá a cada dia e reparar por onde Dona Aranha andava. Essa rotina durou pouco mais de um mês, até ela repentinamente desaparecer.
Seu sumiço coincidiu com a primeira vez em que fui tomar banho e corri pra trás por conta de uma barata na parede. Passaram-se dois dias e uma outra começava a aparecer por debaixo da porta quando eu ali chegava. E, ontem, tive ajuda para matar uma terceira que escalava o degrau também rumo ao banheiro.
Diante de uma barata me bate um desespero ridículo, confesso. Eu me considero pessoa-mato, não me importo com bichos, insetos e afins. Mas as tais baratas se agigantam na minha frente. E começo a viajar sobre o que querem, de onde vêm, onde está seu ninho, etc.
Então, diante do cenário dos últimos dias, minha mente fértil concluiu que as baratas juntaram sua gangue para expulsar a aranha. Conseguiram e dominaram seu território, nosso banheiro. O que posso fazer agora é simplesmente suplicar: volta, Dona Aranha, por favor!