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Duas jornalistas caem no mundo unindo duas paixões: viajar e ajudar o próximo. Aqui, elas relatam as alegrias, os perrengues e os aprendizados dessa experiência.

Reflexões de mais um início

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Por Bruna Tiussu
Atualização:
Loliondo, vilarejo no norte da Tanzânia que é lar do povo Masaai. Foto: Bruna Tiussu

É na pequena vila de Loliondo que começa minha terceira (e última) experiência voluntária na África. Cheguei na semana passada, depois de uma "expedição" pelas estradas da Tanzânia: foram 14 horas de ônibus entre Dar es Salaam e Arusha e mais 10 horas de Arusha até Loliondo.

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Durante a viagem, tive o primeiro contato com o povo Masaai, que domina essa região no norte do país -- estamos a apenas 20 quilômetros do Quênia e do ladinho de dois dos mais conhecidos parques nacionais, o Serengeti e o Ngorongoro. Pastoreiros por tradição, os Masaai passam o dia cuidando do gado, sua maior riqueza, e tiram da terra o complemento de sua alimentação. Para muitos deles, mandar os filhos para a escola ainda é algo que demanda certo convencimento, já que significa perder ajuda nas tarefas diarias.

Bright English School, criada para prover educação às crianças Masaai. Foto: Bruna Tiussu

As crianças Masaai são exatamente o foco da Bright English Medium School, projeto que escolhi para voluntariar. Criado em 2009 pelo casal Baraka e Juliana, é uma mistura de escola primária, internato e orfanato. Dentre as quase 300 crianças que atende, 70 moram na instituição -- são órfãos ou vivem muito longe da escola.

Só uma parte deste total de alunos têm pais que podem pagar por seus estudos (US$ 220 é o valor cobrado por seis meses de internato, para custear escola, casa, comida, roupas e materiais de higiene pessoal). Essa grana acaba financiando aqueles que não têm condições de arcar com as taxas escolares.

Cômodos servem de salas de aula e de dormitórios para os alunos. Foto: Bruna Tiussu

O dinheiro que entra via pais obviamente não é suficiente. Então o projeto depende de doações. E como tantos outros que vi África afora, encontrar instituições a fim de patrociná-lo é o seu maior e mais constante desafio.

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Como aconteceu nas minhas experiências voluntárias em Gana e Uganda, a primeira semana na Bright School é de sensações mil e de um turbilhão de pensamentos. De que forma ajudar; o que priorizar; como adicionar algo no dia a dia das crianças; qual legado será possível deixar em pouco menos de dois meses que passarei aqui. Aquela ansiedade voluntária da qual já falei neste outro post.

Crianças no ônibus da escola. Foto: Bruna Tiussu

Desde que cheguei neste projeto especificamente, porém, tenho pensado muito também nas pessoas que conduzem suas vidas com o objetivo primordial de ajudar o próximo. Baraka e Juliana escolheram viver neste canto Masaai. Montaram seu lar e abriram suas portas para crianças de outras famílias -- literalmente, pois moram junto com os pequenos do internato/orfanato -- que não tinham acesso à escola. E trabalham diariamente para prover uma educação de qualidade a elas.

Calhou que meus encontros com esses corações especiais têm sido nos mais remotos cantos do mundo. São pessoas com valores tão louváveis que minha cabeça moldada no mundo capitalista pena para entender. Chega a dar inveja deles, que funcionam sob uma lógica tão bonita e necessária, sabe? Daí fico aqui, refletindo sobre a minha (e a sua) insignificância no mundo.

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