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Duas jornalistas caem no mundo unindo duas paixões: viajar e ajudar o próximo. Aqui, elas relatam as alegrias, os perrengues e os aprendizados dessa experiência.

Rotina severina

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Por Bruna Tiussu
Atualização:
Professor Omary ajudando a desatolar o ônibus. Foto: Bruna Tiussu

Havia motivos suficientes pra fechar a cara, xingar o mundo, estar puto da vida. Primeiro, o ônibus da Bright School quebrou. Não sei direito qual foi o problema, mas soube que Baraka, o diretor, teve de encomendar uma peça em Arusha, que seria enviada no ônibus em dois dias. Portanto, senta e espera.

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Enquanto isso, para não deixar as crianças sem transporte -- a Bright School hoje conta com dois endereços: o internato, onde todos dormem e funcionam os maternais e a primeira série, e outro conjunto de prédios, a 40 minutos de caminhada, onde estudam alunos da segunda à sétima séries --, os vizinhos foram acionados.

O que é normal por aqui. Você precisa de ajuda, o camarada que mora ao lado está ali para o que for preciso, e vice-versa. Nesta lógica, o ônibus da escola pública de Loliondo chegou no internato naquela fria manhã de quinta-feira para quebrar um galho na locomoção das crianças da Bright.

Acontece que havia chovido horrores na noite anterior. E se as estradas (de terra, obviamente) já são complicadas em dias secos, imagine depois de muita água rolar...

Ao tentar subir a primeira via, o ônibus atolou. Não saía do lugar de jeito nenhum. Pois desce a criançada toda do ônibus, vem o diretor em seu carro pequeno, coloca a criançada lá dentro, faz várias viagens até a escola.

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Crianças indo do ônibus atolado para o carro do diretor. Foto: Bruna Tiussu

Em paralelo, professor Omary se junta ao motorista do ônibus, arregaça as mangas e pega em pás para ajudar a desatolar o veículo. Depois, percorre o caminho a pé até a escola, entra na sala de aula e começa a lecionar.

Ainda que houvesse motivos pra fechar a cara, xingar o mundo, estar puto da vida, Baraka e Omary não deram um sinal sequer de negatividade. Estavam até com seus sorrisos costumeiros no rosto durante todo o tempo. É que eles encaram este tipo de perrengue com a naturalidade de quem vive numa vila isolada da África. De quem costuma dizer "faz parte", e desconhece o conceito de vida fácil.

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