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Duas jornalistas caem no mundo unindo duas paixões: viajar e ajudar o próximo. Aqui, elas relatam as alegrias, os perrengues e os aprendizados dessa experiência.

Sejamos mais africanos

Por Bruna Tiussu
Atualização:
A responsabilidade de cuidar dos mais novos é de todos. Foto: Bruna Tiussu

1. Família

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Um dia, na escola de Kumasi, Gana, Juli (aluna da primeira série) veio me apresentar Elen, sua irmã. Estranhei, porque sabia que ela só tem duas irmãs: Érica e Lordina. Perguntei os nomes dos pais de Elen e eles eram diferentes dos nomes de seus pais. Não entendi. Até que uma das professoras me explicou que na verdade elas são primas, mas primos se consideram, chamam-se e cuidam uns dos outros como irmãos. Achei lindo demais.

Esse foi meu primeiro contato com o conceito de família adotado pelos africanos. Eles levam em conta a "extended family", que dá a tios, primos, cunhados, etc. o mesmo grau de importância de pais e irmãos.

A ideia considera também que os mais velhos da família têm de ajudar a cuidar de todos os mais novos. Em questões do dia a dia, como dar comida e banho, a quesitos mais sérios, como financiar os estudos. Para eles, não faz sentido um membro da família estar bem de vida se todo o resto não está. Maravilhoso, né?

2. Cordialidade

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Cumprimentos longos e sinceros. Foto: Eduardo Asta

Não me canso de reparar num africano cumprimentando outro. Eles não apenas apertam mãos, este ato automático que adotamos, mas as balançam, fazem gestos curiosos com os dedos (a depender de suas origens) e chegam a conversar por longos cinco minutos com elas atadas.

Os africanos tampouco iniciam uma conversa sem antes dar bom dia/boa tarde e perguntar se a pessoa está bem. Alguns vão além: querem saber da família, dos filhos, da colheita, para daí então entrar num assunto.

Vale para conhecidos e desconhecidos. Por todos os países que passei até agora, não vi uma pessoa sequer entrar numa vendinha e pedir um produto sem primeiro dar um educado cumprimento. O mesmo acontece quando um para outri na rua para pedir uma informação.

O comportamento, para eles tão natural, fez-me pensar na frieza dos nossos encontros rotineiros em São Paulo, aonde a pressa sempre serve de desculpa para a ausência de um "bom dia, como vai você?"

3. Comunidade

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Casas com pátio compartilhado. Foto: Eduardo Asta

Nos vilarejos África adentro percebe-se como o povo aqui segue à risca o conceito de comunidade -- que já nos escapou há bastante tempo.

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É comum ver famílias compartilhando o mesmo pátio, a mesma cozinha e o mesmo banheiro. Também os utensílios e, por que não?, os alimentos.

Traduzindo: vale a lei do escambo e a premissa de uma mão lava a outra. As famílias trocam os produtos que cultivam e dividem a comida. Hoje, você tem arroz para cozinhar; ou carvão para acender o fogão. Vai dividi-los com o vizinho que não tem. Amanhã, pode ser o inverso.

Quando conto que na minha "comunidade" as coisas não são bem assim, eles estranham. Às vezes arregalam os olhos. Não entendem como o muzungo (homem branco) pode ter esse hábito esquisito de achar que a felicidade está no próprio umbigo.

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