01 de junho de 2019 | 05h00
Na madrugada de 26 de abril de 1986, uma explosão no reator 4 da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, então parte da União Soviética, causou o maior desastre radioativo da humanidade. Inicialmente, o acidente foi abafado pelo governo mas, quando a nuvem radioativa chegou a outros países, o caso se tornou público e Pripyat, a cidade mais próxima - que abrigava os funcionários da usina e suas famílias -, foi evacuada.
Até hoje, uma área de cerca de 2,600 km², conhecida como zona de exclusão, delimita a região mais afetada pela radiação. Mas o local acabou entrando na rota dos tours guiados - é preciso estar acompanhado por um guia credenciado para entrar ali. A Associação dos Operadores de Turismo em Chernobyl, que congrega as empresas autorizadas, tem uma lista com as opções no site, em inglês.
Se você ficou curioso sobre como está o local hoje depois de assistir à nova série da HBO Chernobyl, preparamos um miniguia com tudo o que você precisa antes de reservar seu tour. Os passeios partem de Kiev, a capital, que fica a 180 quilômetros de Chernobyl - os passeios duram um dia inteiro.
As empresas que guiam o passeio são unânimes: o passeio é seguro, desde que todos sigam à risca as regras de segurança. Durante um dia na cidade, os turistas são expostos a um nível de radiação menor do que um exame de raio X ou um voo transatlântico. Não é permitido encostar nas paredes e nem se sentar no chão, por exemplo. Estão fora do roteiro os chamados hot spots, áreas em que a radiação é mais elevada, como lugares fechados e pontos que acumulam água.
Na pausa para o almoço e na hora de ir embora, todo mundo passa por um detector de radiação.
Só é possível entrar na zona de exclusão acompanhado de uma das empresas credenciadas. A reportagem do Viagem fez o passeio com a equipe da agência Chernobyl Welcome (tour de um dia custa 119 euros por pessoa). Os guias medem constantemente o nível de radiação e conhecem os locais a serem evitados. Por entrarem regularmente na região, eles passam por acompanhamento médico constante.
É proibida a entrada de menores de 18 anos e, logo na entrada, militares fazem um controle minucioso de passaportes. E, mesmo não sendo necessário usar traje especial, é obrigatório ir de blusa de manga comprida, calça e sapato fechado.
Mesmo que o desastre tenha ficado mundialmente conhecido como a tragédia de Chernobyl, a cidade mais icônica da região se chama Pripyat. Ela foi fundada em 1970 para abrigar os funcionários da usina e suas famílias. Com arquitetura moderna e amplos espaços, a cidade era um orgulho soviético. O passeio hoje em dia mostra como a natureza tomou conta do local, que antes era ocupado por cinemas, escolas, hospitais, praças e um parque de diversões, cuja inauguração estava programada para cinco dias depois do acidente.
O último reator da usina nuclear foi desativado bem depois da tragédia, em dezembro do ano 2000. Mas seu núcleo ainda gera calor, e por isso muitos funcionários continuam trabalhando em sua manutenção. Eles também passam por um controle de saúde e alternam semanas de trabalho com um período de descanso fora da zona de exclusão.
Por mais que seja proibido tocar em qualquer coisa, há um grupo que tem por diversão colecionar objetos e fotos de Chernobyl. Os stalkers, como são chamados, montam o cenário digno de um filme de terror. Na creche da cidade, bonecas e sapatinhos de criança foram colocados na janela de forma quase poética. No hospital, a mesa de cirurgia está montada como se tivesse sido abandonada às pressas. Tudo estrategicamente posicionado para dar um drama a mais em uma história que já é suficientemente horrível.
Com a evacuação repentina de Pripyat, as pessoas abandonaram suas casas e suas raízes. Mas muita gente não conseguiu se adaptar à nova vida e, contra todos os esforços do governo, voltaram à região contaminada. Hoje, muitas delas convivem com os efeitos colaterais da radiação.
Se prepare para cruzar com cachorros e até raposas (se der sorte). Os animais vivem nas florestas da região, junto com javalis, ursos e uma rica fauna que cresce livre e sem grande interferência humana. Os cães vivem soltos e são alimentados pelos funcionários da usina.
Os passeios incluem uma pausa para o almoço, que é feito no refeitório da usina, juntamente com os funcionários. O bandejão é uma ótima oportunidade para comer o que os locais realmente comem e, por mais que seja bem diferente do nosso arroz com feijão, é uma delícia.
A zona de exclusão está a duas horas de Kiev, capital da Ucrânia. Vale reservar pelo menos um dia para conhecer a cidade e até mesmo para fazer compras, já que muitos itens de consumo são mais baratos que em cidades da Europa Ocidental.
Com a arquitetura características de países da ex-União Soviética, a cidade tem espaços amplos e monumentos grandiosos, como catedrais ortodoxas. E a cidade conta com boa estrutura de hotéis e apartamentos Airbnb.
A cidade fantasma de Pripyat é a História vista na prática. Mas é igualmente importante conhecer o Museu Nacional Ucraniano de Chernobyl, em Kiev. É lá onde estão documentos históricos, vídeos da época e diversos apetrechos que foram usados para conter – mas antes, esconder – a tragédia. Se possível, vá ao museu antes de rumar à Pripyat para entender melhor o que estiver vendo na zona de exclusão.
O ingresso é increvelmente barato: custa 10 UAH (R$ 1,50). Se quiser tirar fotos, é preciso comprar um tíquete de 30 UAH (R$ 4,50). O áudio-guia (disponível em inglês, ucraniano, russo e outros quatro idiomas) sai por 50 UAH (R$ 7,50).
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