10 destinos LGBT que fogem do lugar-comum

O Rio de Janeiro, Barcelona e San Francisco continuam lindos e irresistíveis - mas há muitos outros destinos interessantes (e simpatizantes!) para explorar. Veja nossas apostas

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Por Thiago Lasco
Atualização:
A parada do orgulho LGBT de Tel Aviv cresce a cada ano - em 2019, recebeu 250 mil pessoas Foto: Guy Yechiely

Junho é o mês em que se celebra o Orgulho LGBTQ+  mundialmente (em memória aos históricos protestos ocorridos em Nova York contra a repressão policial ao bar gay Stonewall, emjunho de 1969). Em São Paulo, a Parada do Orgulho LGBT já se tornou um marco no calendário da cidade e está marcada para o dia 23 de junho. 

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Mas o que desejam os turistas gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros? Participar de paradas e blocos de rua com divas como Pabllo Vittar (que este ano vai estar na Parada de São Francisco, na Califórnia), Anitta e Daniela Mercury? Embarcar em cruzeiros com festas que varam a madrugada? Alguns deles, sim. Mas eles também estão interessados em explorar metrópoles com museus, vida cultural, compras e gastronomia variada. Conectar-se com a natureza em praias paradisíacas, reservas florestais ou montanhas cheias de neve. Ir a um parque temático para divertir-se com os filhos. Ou mesmo procurar destinos introspectivos. 

Nada muito diferente de qualquer outro turista. Há, contudo, uma peculiaridade: a tolerância e respeito à diversidade não são os mesmos em qualquer lugar. 

Alguns países abraçam a diversidade e acolhem esses visitantes de braços abertos. A Europa e os Estados Unidos têm vários destinos consagrados entre o público LGBTQ+, como Barcelona, São Francisco, Madri e Berlim. Na América Latina, capitais como Buenos Aires e Bogotá oferecem boas opções para esse público e têm uma cena conhecida. 

Já no Brasil, Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo tiveram no passado um trabalho direcionado de aproximação com o turista LGBT. Neste ano, porém, o presidente Jair Bolsonaro expressou que não considera esses visitantes bem-vindos.  "O Brasil não pode ser um país de turismo gay. Temos famílias", afirmou. 

Durante o Fórum de Turismo LGBT+ 2019, que ocorreu no dia 6 deste mês na capital paulista, o Secretário de Turismo do Estado de São Paulo, Vinícius Lemmertz, relativizou a importância da declaração do presidente. Perguntado sobre se isso não afastaria os turistas LGBT do Brasil, com medo de serem mal recebidos, ele respondeu com ceticismo. "Não sei se deixariam de viajar por causa disso. Tem gente que não gosta do (presidente Recep Tayyip) Erdogan e visita a Turquia assim mesmo", disse. "Há provas concretas de que (as declarações) realmente levam a um aumento da violência? Não se pode ficar num discurso que é hipotético."

Ao mesmo tempo, na última quarta-feira, o plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu, por 8 votos a 3,que crimes de ódio contra a população LGBT  terão punição equiparada a dos crimes de racismo, que não prescrevem e não são passíveis de fiança. 

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Não se trata de um movimento isolado. Outros países também vêm caminhando nesse sentido. Apenas nos primeiros meses deste ano, Angola e Botsuana descriminalizaram a homossexualidade, enquanto Equador e Taiwan aprovaram o casamento entre pessoas do mesmo sexo. 

Ainda assim, a Associação Internacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersexuais (ILGA) listou neste ano 70 países em que condutas homossexuais são consideradas crimes. Desse total, 32 estão na África, 23 na Ásia, 9 no continente americano e seis na Oceania. As sanções variam de multa a prisão (que pode ser perpétua) e até mesmo pena de morte, caso da Arábia Saudita, Iêmen, Irã, Iraque, Nigéria, Somália e Sudão. Flertar desavisadamente com um desconhecido, andar de mãos dadas com o(a) próprio(a) parceiro(a) – enfim, ser espontâneo – são atitudes que podem custar caro. 

Para a população LGBTQ+, escolher o destino de viagem é uma questão de conforto e também de segurança. Mas não é preciso voltar aos mesmos lugares conhecidos de sempre.  Listamos aqui 10 sugestões que vêm se revelando boas apostas para esse público

ISRAEL

Tel Aviv seduz o visitante com praia, gente bonita eastral cosmopolita Foto: Dana Friedlander/Ministério do Turismo de Israel

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Não é exagero dizer que Israel é um dos destinos LGBT do momento. A Parada do Orgulho de Tel-Aviv vem crescendo em relevância a cada ano, engrossada por visitantes de outros países. Uma das explicações possíveis é que o país está mais presente do que nunca na cultura gay internacional, exportando DJs de música eletrônica e fazendo barulho no festival de música pop Eurovision – a cantora israelense Netta Barzilai venceu a edição de 2018 e, com isso, neste ano o concurso foi realizado em Tel-Aviv.

Aliás, a cidade se firmou como a capital gay do Oriente Médio: é descolada, tem praia e inglês fluente. Ao mesmo tempo, a religiosidade de Jerusalém está a apenas 59 km de distância. Mercados de rua, ruínas antigas, passeios pelo deserto e um mergulho nas águas salgadas do Mar Morto (em que a alta concentração de sal faz o banhista boiar naturalmente) são outras possibilidades para o visitante.

URUGUAI

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A Rambla, calçadão que contorna a orla de Montevidéu, tem 22 km de extensão e rende um belo passeio Foto: Ricardo Freire/Estadão

Nesta década, o Uruguai se tornou sinônimo de território progressista e de liberdades individuais na América do Sul. Em 2012, o país descriminalizou o aborto e aprovou a união entre pessoas do mesmo sexo, com os mesmos direitos civis do casamento heterossexual. Dois anos depois, o consumo de maconha foi legalizado. Tudo aprovado durante o governo de José Mujica, um presidente carismático e que dirigia um velho Fusca.

O Uruguai também se consolidou como um destino em que o turista LGBT é recebido sem caras feias ou olhares enviesados. Montevidéu tem a boa mesa que o brasileiro se habituou a encontrar em Buenos Aires – mas em ritmo mais contemplativo e com vista para o Rio da Prata, que é contornado pela Rambla, uma orla caminhável de 22 km. O agito de verão em Punta del Este, um dia regado a bons vinhos em uma bodega e o charme bucólico da pequena Colonia del Sacramento completam o pacote básico.

ARRAIAL D'AJUDA, BAHIA

O centrinho da vila de Arraial d'Ajuda tem um simpático casario colonial, que abriga lojas, cafés e restaurantes Foto: Nilton Fukuda/Estadão

As joias do Nordeste brasileiro para o turista LGBT sempre foram Salvador e Recife, duas cidades cheias de personalidade, com oferta consistente de boa gastronomia, história e cultura. Fugindo das  capitais, não há um vilarejo de praia específico que tenha sido oficialmente adotado por esse público. Mas Arraial d'Ajuda, na Bahia, vem comendo pelas beiradas e construindo uma boa reputação. A cereja do bolo são suas pousadas supercharmosas, mas sem ostentação, que entregam uma experiência de hospedagem intimista e acolhedora, inclusive para casais do mesmo sexo.

O mar está sempre calmo e na temperatura ideal (Bahia, né?) e o simpático centrinho conquista o visitante sem fazer força: casas coloniais coloridas, uma pracinha com cara de interior, a vista para a praia a partir do mirante que fica atrás da igreja... e, se você quiser um tantinho a mais de glamour, uma esticada até Trancoso é totalmente viável. 

MONTPELLIER, FRANÇA

A Place de La Comédie, no centro histórico, é onde tudo acontece em Montpellier, no sul da França Foto: Ennelise Napoleoni-Bianco/Pixabay

Montpellier é a cidade mais gay da França depois de Paris. O pique jovem e multicultural é fruto de sua numerosa população estudantil – tanto de universidades como de escolas de idiomas, já que a cidade é uma das mais procuradas para aprender francês – e explica a boa oferta de vida cultural, shows e festivais. Montpellier tem atributos de cidade grande (bons museus e uma filial das Galeries Lafayette, por exemplo) e arquitetura que mescla o histórico e o moderno.

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Ao mesmo tempo, a proximidade com o Mar Mediterrâneo deixa tudo mais relaxado e alegre, especialmente no verão. O acesso ao litoral é fácil e o público LGBT tem não um, mas cinco trechos para curtir a praia – em alguns deles, o nudismo é oficial. A noite tem bares e clubes bem animados. Mas talvez você prefira dormir cedo para aproveitar o sol que brilha em mais de 300 dias por ano, ou fazer bate-voltas para cidadelas medievais como Aigues-Mortes.

FERNANDO DE NORONHA

Tudo é superlativo na beleza natural de Fernando de Noronha - a começar pela fotogênica cor da água do mar Foto: Renée Pereira/Estadão

O arquipélago pernambucano sempre ocupou posições de destaque nas listas de praias mais bonitas do País. Nos últimos tempos, aos predicados naturais vem se somando uma insuspeita vocação festeira. Em julho, Noronha vai abrigar um festival dedicado à música eletrônica, com três dias de festas regadas a open bar. Mas os LGBTs mais espertos já esticam suas cangas por lá há um bom tempo.

O Love Noronha, que neste ano ocorre de 15 a 18 de agosto, já está em sua sétima edição – na última, em 2017, a atração foi a cantora Pabllo Vittar – e aposta na trinca praia, festa e gastronomia. Uma coisa é certa: quem se cansar do agito terá cenários pra lá de paradisíacos para recarregar as baterias.

MÉXICO

Escultura de Salvador Dali no Museu Soumaya, na capital mexicana. O espaço foi construído pelo milionário Carlos Slim para expor sua extensa coleção de arte, que vai de arte precolombiana até esculturas de Auguste Rodin Foto: Jorge Dan Lopez/Reuters

O México é um prato cheio para o turista LGBTQ+. A Cidade do México tem tudo o que se espera de uma grande capital: pelo menos três museus de primeira linha, uma cena gastronômica vibrante e diversificada e vários bairros bacanas para explorar, dos chiques aos descolados. Além disso, é liberal: foi o primeiro lugar da América Latina a legalizar o casamento homoafetivo, em 2010, meses antes da Argentina.

Os endereços LGBT clássicos estão na chamada Zona Rosa, mas áreas vizinhas como Roma e Condesa também são ótimas para badalar de dia ou à noite. Já a litorânea Puerto Vallarta é “o” destino de praia LGBT do país e atrai, além dos mexicanos, um grande número de visitantes do Canadá e dos Estados Unidos. O balneário tem uma verve refinada, com butiques e restaurantes de alto padrão, além de uma oferta de resorts bastante respeitável.

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A Zona Romántica é a área mais gay, mas o turista é recebido com total naturalidade por toda parte. E a Playa de Los Muertos é o local para ver e ser visto. Se tiver tempo, vale também explorar as cidades coloniais do interior do país, como Oaxaca e Puebla.

FORT LAUDERDALE, ESTADOS UNIDOS

Praias, vida noturna e muitos resorts estão no menu de Fort Lauderdale, balneário que é o maior reduto gay daFlórida (EUA) Foto: David Mark/Pixabay

O agito cor de rosa da Flórida migrou de Miami 48 km para o norte: é em Fort Lauderdale que tudo acontece hoje em dia. O êxodo para o balneário foi tão grande que hoje muitos gays norte-americanos e canadenses escolheram a cidade para comprar uma casa de veraneio (e se mudam de vez para curtir a aposentadoria).

Aliás, o clima quente e ameno em relação ao resto do país significa que Fort Lauderdale tem um calendário de festas e eventos bem distribuído pelo ano, com direito a duas paradas do orgulho (uma em fevereiro e outra em junho), festival de cinema, baladas fetichistas e até um Halloween de rua.

Para o turista, a diversão está principalmente na praia, nos muitos resorts – alguns exclusivos para o público LGBT – e na vida noturna. O Las Olas Boulevard é um concorrido corredor de cafés, restaurantes e bares. Na vizinha Wilton Manors, o senso de comunidade é forte - mas héteros são sempre bem-vindos, é claro.

TAILÂNDIA

Os mercados flutuantes são uma das muitas facetas a se descobrir na Tailândia Foto: Dean Moriarty/Pixabay

Os brasileiros costumam se apaixonar pela Tailândia. Não por acaso. O clima tropical dá plantas e frutas que conhecemos bem, a descontração sorridente dos tailandeses destoa do protocolo mais reservado dos povos vizinhos e a complexa Bangcoc tem muitos cantos que nos parecem estranhamente familiares.

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Para o turista LGBT, a  tolerância dos tailandeses em relação à diversidade sexual - em especial a transexualidade - é muito bem-vinda. Mas a ferveção noite afora está longe de ser o principal apelo do país. A espiritualidade nos templos (que encantam mesmo os turistas menos religiosos), as massagens revigorantes, a saborosa culinária, os mercados flutuantes... Há muito para ver e viver.

Bangcoc é uma metrópole inesgotável, com um pé no suntuoso e outro no popular, com tuk-tuks e barracas de comida de rua lado a lado com shopping centers futuristas. Para amantes de praia, as possibilidades  são variadas, com duas costas e diversas ilhas para escolher. 

COLÔNIA, ALEMANHA

A imponente catedral domina o cenário de Colônia (Köln), cidade que sedia a segunda maior parada gay da Alemanha Foto: Gerd Rohs/Pixabay

A Alemanha é um dos países europeus mais progressistas em relação a questões de sexualidade. Neste ano, o atual ministro da saúde deve apresentar um projeto de lei para proibir terapias de conversão forçada de homossexuais. A capital LGBT alemã por excelência é a hedonista Berlim, mas também dá para se divertir em outras cidades.

Colônia tem a segunda maior Parada do Orgulho da Alemanha (a deste ano será realizada no dia 22 deste mês) e, além de visitantes de cidades próximas como Dusseldorf e Bonn, vem recebendo a cada ano mais turistas de outras partes também. As ruas da cidade também ficam cheias no Carnaval, com muita gente fantasiada desfilando e bebendo nos bares. No resto do ano, Colônia ganha mais movimento em eventos como o Fetish Pride (maio) e o Bear Pride (novembro).

Se a cidade perde para Berlim em termos de atrações turísticas – o maior destaque é sua enorme catedral gótica, com torres de mais de 150 metros de altura – ela compensa com um clima hospitaleiro e amigável.

TAIPÉ, TAIWAN

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O Chiang Kai-Shek Memorial Hall é um dos símbolos de Taipé, a capital de Taiwan Foto: Ting Yaoh/Pixabay

A ilha de Taiwan saiu na frente e se tornou o primeiro território asiático a legalizar o casamento de pessoas do mesmo sexo. A lei que entrou em vigor no mês passado, incorporando uma decisão do Tribunal Constitucional de 2017, dá aos casais homoafetivos praticamente todos os direitos dos demais casais - o único ponto ainda não definido é o direito à adoção.

A capital Taipé tem aquele contraste entre tradição e modernidade presente em várias metrópoles asiáticas, com construções antigas e arranha-céus. Mas a população LGBT é bem mais visível que em Tóquio ou Seul, ainda que de forma discreta (não espere ver demonstrações públicas de afeto). A Red House Square concentra mais de uma dezena de bares gays e é nessa região que ocorrem, em outubro, as festas durante a semana da Parada da Diversidade, a maior da Ásia.

Parques, templos, shopping centers, mercados noturnos e bons restaurantes de comida chinesa e internacional são algumas das atrações para o visitante.