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72 horas de uma vegetariana em Buenos Aires, a capital da parrilla

Apesar de a capital argentina ser conhecida por churrasco, paleta e ojo de bife, me alimentei muito bem, mesmo encontrando algumas "pegadinhas"

Por Letícia Ginak
Atualização:
Prato bonito e saboroso no Narda, por menos de R$ 50 com sobremesa e taça de vinho Foto: Leticia Ginak/Estadão

A minha crise dos trinta veio acompanhada pelo abandono das comemorações de aniversário em bares e pela escolha de virar o ciclo viajando. E o destino para viver a chegada dos 31 anos foi proposto pelo meu marido, que se baseou nos seguintes fatores: passagens compradas com pontos, Real mais valorizado do que a moeda local e duração de voo curta, pois seriam apenas três dias de hospedagem. Foi com esse algoritmo que pisei em Buenos Aires no dia 29 de março com minha bagagem de mão e o desafio de explorar a gastronomia local sem comer carne, já que sou vegetariana (derivados de leite e ovos fazem parte da minha dieta).

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Compliquei um pouco mais essa missão porque não quis frequentar lugares 100% vegetarianos. Isso eu já faço em São Paulo. Tenho uma paixão antiga por gastronomia e acredito que a culinária e os locais onde se vende comida (não só os restaurantes) são a melhor forma de conhecer lugares e pessoas. Por isso, acho que vale a pena não ter tantas restrições quando se assume o papel de viajante.

Com uma pesquisa prévia e a cara de pau de pedir ao garçom uma opção vegetariana em um restaurante chamado La Carniceria (O Açougue), já dou o spoiler de que tive refeições deliciosas e voltei com quilos a mais, que não pertenciam à bagagem de mão e também não são culpa exclusivamente dos alfajores.

Dia 1: Ovo em um dos 50 melhores restaurantes da América Latina

Almoço

Vamos pular a parte do café da manhã porque é simples conseguir um pãozinho com manteiga e uma xícara de café em qualquer esquina. Às 13h tinha uma reserva no restaurante Narda Comedor - que ocupa a 46ª posição no ranking 50 Best Latin America. Todos os dias, é servido um menu que contempla uma opção de prato principal e sobremesa ou café por 410 pesos (R$ 38) ou 470 pesos (R$ 43) com a adição de uma taça de vinho. Os acompanhamentos são os mesmos e o cliente escolhe apenas a proteína. Para minha surpresa, existiam duas opções ovolactovegetarianas: ovo ou um queijo grelhado na parrilla (espécie de churrasqueira) que lembra muito o nosso queijo coalho, porém de sabor mais suave.

 

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"Come planta", recadinho atrás do balcão do Narda Foto: Letícia Ginak/Estadão

 

Guisado de lentilhas com legumes e um tempero que lembra a comida asiática, couscous marroquino com ervas, dois pedaços generosos de queijo com um molho delicioso e abobrinhas grelhadas. O prato é lindo e também saboroso. Primeira refeição realizada com sucesso.

Jantar

Entre um sorvete de doce de leite e uma visita ao Malba (Museu de Arte Latino Americana de Buenos Aires), a fome bateu lá por volta das 20h. Estava hospedada em Palermo, bairro boêmio da capital em que se encontra de tudo, do boteco a restaurantes estrelados. Optei por parar em um local em que tinha apenas a placa "confeitaria". Com ares de anos 1990, depois de uma busca no Google vi que o local se chama El Horno. Lá, alfajores imensos são expostos em uma vitrine. Mas meus olhos foram direto para a estufa de empanadas. Sim, outra receita típica do país. “Roquefort y queso con cebolla, por favor”.

Poxa vida, que delícia (suspiros de saudade)! Recomendo uma visita neste local que fica na esquina das ruas Thames e Güemes. Cada empanada custou 40 pesos (R$ 3,70).

Observação: depois que voltei de viagem, descobri que a receita típica da massa de empanada leva banha de porco. Não sei é o caso da El Horno, mas o que está feito está feito. Amigos vegetarianos, eu estou convivendo bem com essa informação. Não me matem!

​Dia 2: Mercado e pizza de legumes

Almoço

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Empanadas do El Hornero no Mercado de San Telmo Foto: Leticia Ginak/Estadão

Mais do que apenas matar a fome, o local escolhido foi um dos lugares que mais gostei de conhecer. O Mercado de San Telmo - e seus arredores - é acolhedor e uma boa experiência cultural. Floriculturas se misturam com bancas de vinil e pôsteres que clamam por revolução. E os boxes de comidas têm lugar de destaque em meio a esse caos organizado. Não sei se ele já passou por uma onda gourmet portenha, mas acredito que até os mais puristas irão gostar da experiência.

Aqui, foram duas etapas. Como entrada comi empanada humita (recheio a base de milho, queijo e cebola) da El Hornero. Paguei 95 pesos (R$ 9) por duas unidades.

Depois, foi a vez de comer uma pizza com legumes da estação (cenoura, escarola, cebola, abobrinha) e queijo brie, da Penacho. Parece uma saída bem pouco digna apelar para a receita italiana. Porém, os portenhos amam pizza e a comem o tempo todo.

Pizza é apelação? Pode ser. Mas essa estava deliciosa Foto: Leticia Ginak/Estadão

Essa pizza, teoricamente individual, mas que dá para dividir, custou 240 pesos (R$ 22). O passeio no mercado terminou com churros recheado de doce de leite, da La Churreria.

Jantar

Como exagerei um pouco no almoço (quase um almojanta), substituí o jantar por um sorvete de doce de leite e terminei com um drinque, no La Calle Bar (Niceto Vega, 4942). Aos interessados em gim tônica, no local o valor do coquetel é de 180 pesos (R$ 16).

Dia 3: Sem carne no La Carniceria

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Almoço

Acompanhei meu marido, carnívoro, em um restaurante chamado La Carniceria (Rua Thames, 2.317), conhecido por suas parrillas repleta de cortes "diferentões". Assim que entrei, vi em uma das paredes uma foto gigantesca de uma espécie de açougue, com carcaças penduradas. "Perdi essa", pensei. Minha primeira atitude (desesperada, confesso), foi perguntar ao garçom se havia alguma opção vegetariana na casa. A resposta veio com um movimento de negação feito com a cabeça. Ok.

Mas o cardápio me trouxe uma ponta de esperança. Com todas as preparações feitas na parrilla, havia opções de milho, acelga, brócolis, abobrinha e muitos outros vegetais, acompanhados de molhos saborosos. Entendi então que era possível ser vegetariana no ‘templo da carne’, apelido dado ao local.

Parece um pernil, mas é só repolho, abobrinha e brócolis Foto: Leticia Ginak/Estadão

Meu pedido foi brócolis com repolho e abobrinhas na parrilla (130 pesos ou R$ 12) com papas a la sal (batata recheada com sour cream - 90 pesos ou R$ 8). Não sei se foi uma defesa do meu cérebro, mas esse pode ter sido o melhor brócolis que já comi na minha vida. Meu marido experimentou e concordou. Mas isso também pode ser só amor.

Jantar

Depois de uma passada no Caminito (como dispensar um clássico?) e uma pausa para um alfajor, confesso que meu jantar foi uma degustação de cervejas artesanais (280 pesos ou R$ 26) no Jerome Cerveceria, em Palermo.

Papas fritas (240 pesos ou R$ 22) acompanharam a despedida dessa cidade linda, que recomendo fortemente. Seja você vegetariano ou carnívoro.

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Degustação de cervejas artesanais no Jerome Foto: Leticia Ginak/Estadão

 

Nota: O restaurante Proper estava na lista, mas o tempo apertado e alguns exageros no almoço não me permitiram cometer mais esse pecado da gula. Lá, o fogo da parrilla também reina e os legumes têm lugar de destaque nas preparações, que sempre privilegiam ingredientes de produtores locais.

Por fim, para comprovar que é possível viver sem carne em Buenos Aires, tenho registros que provam como os portenhos estão abertos para essa filosofia de vida. Nas minhas andanças pela cidade, encontrei hambúrguer vegetariano e até doce de leite vegano. 

 

Sim, encontrei doce de leite vegano no Mercado de San Telmo Foto: Leticia Ginak/Estadão

 

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