A francesa Le Havre respira arte e arquitetura

A terra de Monet e de outros artistas do movimento impressionista também tem museus e complexos de inspiração modernista

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Por Cristal da Rocha
Atualização:
Museu de Arte Moderna André-Malraux tem vasto acervo de obras de artistas do movimento impressionista Foto: Cristal da Rocha/Estadão

Com 500 anos de história e berço do movimento impressionista, Le Havre respira arte e arquitetura. A seguir, três destinos obrigatórios em sua viagem. 

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Museu de Arte Moderna André-Malraux (muma-lehavre.fr)

Le Havre reverencia muito sua relação com a arte e faz dela um ponto central, o que se percebe visitando o Museu de Arte Moderna André-Malraux. Dentro e fora do museu, a perspectiva da natureza nos leva a entender por que foi ali que muitos pintores dedicaram seu tempo a registrar o porto, os barcos, o pôr do sol e tantos transeuntes que, misturados às cores da natureza, apresentavam uma profusão de sentimentos em suas telas. 

Porém, o passeio não começa dentro de sua estrutura e sim do lado de fora, na orla da praia. Era por lá que Monet se inspirava para pintar. O movimento gerado pelo encontro do mar com o rio Sena criava uma nuance única, que os pintores impressionistas tentavam reproduzir em suas obras.

O impressionismo, enquanto vanguarda artística, tem seu surgimento atrelado à história de Le Havre com o quadro Impressão, nascer do sol de Monet, que originou inclusive o nome do movimento. No MuMa, está uma das maiores coleções de obras impressionistas do mundo e o prédio em si já é uma obra de arte por sua arquitetura arrojada. 

Além da exposição permanente, visitei a temporária dedicada a Raoul Dufy, artista nascido na cidade que transitou – com muita elegância, em minha opinião – por vários estilos na pintura. Os quadros de sua fase fauvista foram os que mais chamaram a minha atenção e fiquei pensando que passei pela mesma praia que ele registrou com suas pinceladas. 

Ao final da visita, me perdi entre os postais, uma incrível oferta deles, mas acabei escolhendo os que continham fotos da cidade totalmente devastada pela guerra. Pareciam fotos de um amplo campo cinza e sem vida, tão diferente do que havia visto. 

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Le Volcan, complexo projetado por Niemeyer Foto: Cristal da Rocha/Estadão

Le Volcan (levolcan.com)

O complexo projetado pelo arquiteto brasileiro é daquelas obras que têm sua assinatura clássica de linhas. O “vulcão” abriga teatro, biblioteca e espaço de convivência na parte interna e externa. 

Para quem viaja com crianças, Le Volcan é uma deliciosa opção, pois a biblioteca tem um amplo espaço com livros infantis que ficam dispostos na altura dos pequenos, dando a eles autonomia na escolha dos títulos, sob a supervisão dos responsáveis. Um belo jeito de incentivar o hábito a leitura. No entorno do Le Volcan, existem bistrôs para descansar e comer algo, além de um pequeno comércio local para você se distrair com algumas compras.

Apartamento Memória (lehavre.fr/agenda/appartement-temoin-perret)

Para ter uma experiência fora do ambiente formal dos museus, vale conhecer a revolução modernista promovida por Auguste Perret. E a melhor forma de compreender a mudança no cotidiano das pessoas é visitando o Appartement Temoin. Ele é um imóvel aberto aos turistas – mas é preciso agendar a visita – que mostra como os apartamentos foram entregues no pós-guerra para os moradores da cidade. 

O Appartement Temoin foi inaugurado em 2006, ano em que a parte histórica da cidade também foi tombada como patrimônio da Unesco, e a distribuição de objetos e mobília é muito próxima àquela dos anos 1950. 

No Apartamento Memória dá para conhecer melhor o cotidiano doméstico do pós-guerra Foto: Cristal da Rocha/Estadão

 Mais do que um teto para se abrigarem e prosseguirem com suas vidas, as moradias trouxeram às famílias uma nova forma de se relacionar. Todos os cômodos eram ligados, de maneira que as pessoas não ficassem isoladas em nenhum espaço da casa. A cozinha deixou de ser um local reservado e distante e passou a “conversar” com a sala de estar. E nesse momento a mulher não está mais confinada a esse único aposento. Ela está mais presente na casa como um todo, uma pequena revolução do papel feminino na unidade familiar. Há um aproveitamento da luz natural com enormes janelas, fazendo com que a entrada da luz seja facilitada e atravesse os cômodos. 

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E é lá que eu vou ter a experiência mais empolgante da relação que se estabelece entre a cidade e a guerra, ao pensar que todos precisaram, além de se adaptar, buscar suas raízes para seguir a vida depois dos anos de caos e violência advindos da guerra.  O que mais surpreende é poder ver todos os objetos da casa – doados por antigos moradores – nos locais onde seus usos eram previstos, e não como nos museus, isolados de seus contextos.

Para os fãs das escolas artísticas, em especial a Bauhaus, fica o convite para o deleite, porque, além da história de resistência e reconstrução, a visita é um banho aos olhos com design, decoração e cores.

Quarto do hotel Vent d'Ouest tem papel de parede imitando uma biblioteca Foto: Cristal da Rocha/Estadão

Onde ficamos

Vent d’Ouest (Le Havre) 

O hotel está em uma ótima localização, ao lado da igreja de Saint Joseph, ponto central para todos os passeios pela cidade. Os quartos são confortáveis e contam com uma divertida decoração com papel de parede de livros, como se fosse uma biblioteca. Para os dias de calor, deixar a janela da pequena sacada aberta pode ser uma boa para se refrescar, afinal a cultura do ar-condicionado não existe por lá. O café da manhã é servido em uma biblioteca e tem croissants, geleias e sucos. Lembre-se de experimentar os queijos, principalmente os frescos à base de leite de cabra.

Onde comer

Le Margote (Le Havre)

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Para um momento gastronômico intimista, o Le Margote oferece um cardápio à base de produtos locais com aquele empratamento clássico e delicado. Vá na sugestão do chef com a opção de menu surpresa – entrada, prato e sobremesa decididos pelo chef e harmonizado com deliciosos vinhos da região.

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