A selvagem natureza de Hokkaido

Em vez de templos e jardins zen, ilha japonesa tem lagos, florestas e vulcões: adrenalina à vista

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Por John O'Mahony
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Mais setentrional e remota entre as quatro principais ilhas japonesas, Hokkaido é considerada a fronteira selvagem do país. Colonizada há apenas 150 anos - até então, foi lar do povo aborígine ainu -, tem paisagem radicalmente diferente das demais: mal se vê um templo ou um jardim zen enfeitando seus 84 mil quilômetros quadrados parcamente habitados. Veja Também: Banho aquecido pelos vulcões Em vez disso, quem visita Hokkaido observa florestas, cadeias montanhosas intermináveis, constelações de lagos e pequenas ilhas-satélite. E uma rica fauna, com raposas, zibelinas, leões-marinhos, garças e, sobretudo, ursos marrons. Mas talvez o mais impressionante é o fato de Hokkaido estar em cima da rabugenta cadeia tectônica Kuril, ''País das Maravilhas'' vulcânico que inclui o Showa-Shinzan, um dos vulcões mais jovens do mundo. Lá estão também algumas das fontes termais mais sensacionais do Japão, não apenas as maravilhosas Quedas de Kamuiwakka (leia mais na próxima página), mas também Noboribetsu Onsen e seu lendário Vale do Inferno, extensão de aparência lunar que cospe enxofre. Hokkaido oferece muito mais do que conseguimos espremer em duas semanas: apenas contornamos o imenso Parque Nacional Daisetsu-Zan, que ocupa a maior parte do centro da ilha . Não é difícil entender por que, todo verão, uma profusão de japoneses migra para esse paraíso natural, perfeito para trekking, escaladas e camping. Os estrangeiros, no entanto, são raros em Hokkaido. SOZINHO, À BEIRA DO LAGO Faixa de floresta densa e de montanhas escarpadas 80 quilômetros ao sul de Sapporo, o Parque Nacional de Shikotsu-Toya rodeia dois belos lagos de caldeira - como o termo sugere, são profundos caldeirões de origem vulcânica, cheios de águas claras. Assim que a floresta se abriu para nós, uma surpresa: o local do acampamento ficaria às margens do maior lago de Shikotsu - e não havia ninguém mais por lá (é assim fora da temporada, disse um guarda). Ainda deslumbrados com a vista do lago, começamos a montar nossas pequenas barracas amarelas. Com tudo pronto, nos sentamos para comer sushis e talharim cozido num pequeno fogão. Terminamos a noite acomodados nos sacos de dormir, observando os reflexos do pôr-do-sol no lago. Na manhã seguinte, pegamos carona com um casal de professores de inglês canadenses até perto do Vulcão Tarumae-zan. Hokkaido, aliás, é ótima para os caronistas. Depois de subirmos em uma hora o último trecho até o topo do Tarumae-zan, que continua ativo (a última erupção ocorreu em 1982), chegamos ao fumegante olho do vulcão. Era menos um poço de lava derretida que uma massa carbonizada de rocha ígnea verruguenta, expelindo fumaça sulfurosa. Depois de passar a noite acampados perto do Lago Toyako, pegamos outra carona até perto do Showa-Shinzan, sem dúvida o vulcão mais extraordinário de Hokkaido. Após um violento terremoto, em 1943, ele simplesmente se ergueu do chão, até atingir 405 metros de altura. Mesmo agora, ainda parece zangado: um carbúnculo agitado de rocha se projeta do capinzal. A essa altura, nós ansiávamos por uma mudança de cenário e viajamos 450 quilômetros de trem até a extremidade mais setentrional da ilha para explorar a costa marítima de Hokkaido - em particular, as ilhotas gêmeas de Rishiri-to e Rebun-to. A primeira tem uma miniatura do Monte Fuji - nos contentamos em apreciá-la do convés do ferry a caminho de Rebun -, conhecida como Ilha das Flores, por causa das mais de 300 espécies que cobrem suas encostas entre junho e julho. Dali percorremos a pé toda a extensão da ilha, começando pela parte mais alta, em Sukoton Misaki, de onde se pode ver a Rússia em dias claros. O percurso conhecido como Hachi-jikan tem 32 quilômetros de trilhas montanhosas, vencidas em cerca de oito horas. Na seqüência, pegamos o trem de novo, 450 quilômetros para o leste até nosso destino final: o Parque Nacional Shiretoko. Trata-se do mais belo recanto de Hokkaido, graças ao Shiretoko Goko - cinco lagos cintilantes interligados por passarelas e habitado por inúmeros animais silvestres. É impossível sair de Hokkaido sem se impressionar com a quantidade de vulcões e fontes termais. Aconselho a visita e garanto: vocês voltarão para casa muito, muito limpos.

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