PUBLICIDADE

Ao vivo em fazendas centenárias, o Brasil de antigamente

Por Bruna Tiussu , VASSOURAS e RJ
Atualização:

É preciso soltar a imaginação e viajar até o século 19 para entender um pouco dessa região pacata, porém cheia de história, localizada a cerca de 120 quilômetros do Rio de Janeiro. O chamado Vale do Café, área hoje ocupada por 14 cidades, lá atrás foi terra tomada por imensas plantações cafeeiras, o então ouro brasileiro. E dominada pelas famílias mais nobres do País, que se exibiam nos nada modestos casarões de suas fazendas. Se a época aura passou e raríssimos pés de café restam por ali, algumas das propriedades venceram o tempo e, com um bom restauro aqui e um tanto de investimento ali, se tornaram o maior legado material da região. Visitar cada uma delas é, portanto, se transportar de fato para o Brasil do passado, com direito a se sentir um barão (ou baronesa). E não há época mais indicada para conhecer a região. Entre os dias 17 e 29, 15 cidades - como Vassouras, Valença e Resende, só para citar algumas - e 14 fazendas vão receber atrações da edição comemorativa de 10 anos do Festival Vale do Café. Um evento que mistura música clássica e arte, ora a céu aberto, em praças, ora em ambientes fechados, como igrejas, casarões, e - por que não? - até em um estábulo. Segundo os organizadores, esta, aliás, é uma das atrações mais requisitadas. A iniciativa segue os passos do aclamado Festival de Inverno de Campos do Jordão, como explica o organizador do evento, Nelson Drucker. "Ao mesmo tempo que reunimos artistas de qualidade para um público pagante, organizamos os gratuitos para que os moradores tenham acesso à essa música." Ao preço de R$ 80 cada, os shows nas fazendas se concentram nos fins de semana e os gratuitos ocorrem ao longo de todo o festival. Destaque para apresentações da Orquestra Sinfônica de Barra Mansa com Elba Ramalho como solista, em Vassouras, Piraí e Barra Mansa. Um braço do evento são as oficinas gratuitas para cerca de 350 alunos da região - este ano, sob a direção do violinista Turíbio Santos.Requinte. Participante do Festival há cinco anos, a Fazenda São Luiz da Boa Sorte passou por sete anos de reformas e se exibe com muita pompa, como se nota pelas gigantescas palmeiras imperiais enfileiradas logo na entrada. Sem medir esforços, pesquisas e investimentos, seus proprietários deixaram sua aparência o mais próximo possível à original, do século 19. Cada detalhe merece um olhar atento, da sala de música que exibe um piano lindíssimo até a cozinha, com seu centenário fogão à lenha. É lá fora, no haras, que Cesar Camargo Mariano se apresenta no dia 28.Como hóspede. Outra sempre presente no festival é a Fazenda Florença, cujo show deste ano será do Trio de Câmara Brasileiro - Saudade de Princesa, no último dia do evento. Ali, visitantes podem (e devem) ficar para passar a noite, pois o local também funciona como hotel. Além das suítes confortáveis, a estada vale para conhecer a casa-sede, onde o dono Paulo Roberto vive e recebe turistas. O espaço mais parece um museu, com uma extensa coleção de peças originais do século 19. Há acessórios, como bengalas e cartolas. Porcelanas, tal como a xícara-bigodeira (que impedia os barões de queimar o bigode parafinado). E até peças raras, como o prato que foi utilizado por D. Pedro II e leva seu brasão.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.