Arquitetura de Gaudí: casas ou obras de arte em Barcelona?

Construções são belas representantes do modernismo que invadiu Barcelona no início do século 20

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Por Bruna Toni
Atualização:
Sala principal da Casa Batllò, na Paseo de Gracia Foto: Bruna Toni/Estadão

BATLLÓ

Nada é óbvio ca

Casa Batlló

, erguida em 1877 por Emílio Sala Cortés e reformada por Gaudí nos primeiros anos do século 20. E, ao mesmo tempo, tudo faz demasiadamente sentido nela. Beleza e funcionalidade andam de mãos dadas neste que é um dos ícones da arquitetura modernista gaudiniana no Paseo de Gracia, principal avenida de Barcelona – o outro é a

Casa Milà, ou La Pedrera

.

Com um guia que, além de áudio, mostra imagens 360 graus dos cômodos, fui percorrendo, boquiaberta, o caminho até o topo. Era abril e já havia muita gente disputando espaço neste caminho. Como gosto de olhar cada detalhe, minha visita levou mais do que a uma hora prevista. Mas valeu a pena: foi como viajar pela natureza fantástica que só se encontra nos livros. E em Gaudí.

A escadaria logo na entrada, por exemplo. O corrimão é semelhante à ossada de um réptil. Na sala principal, o teto parece um redemoinho – o áudio me conta sobre a ideia de imitar o movimento das ondas do mar. Esqueça portas quadradas: elas são sempre curvadas e vazadas com vidros coloridos que aguardam a incidência da luz para brincarem de arco-íris internos. E as paredes parecem ser a pele descamada da família do réptil lá do início.

 

No alto da Casa Batllò, a parte traseira do dragão que se vê na fachada Foto: Bruna Toni/Estadão

Cada detalhe da casa, uma construção tipicamente burguesa do início do século 20, foi pensado por Gaudí para agradar aos gostos e às necessidades de seu dono à época, o industrial D. José Batlló y Casanovas. Materiais reciclados, azulejos, ferro forjado, ornamentos de pedra, madeira e muitos vitrais foram usados para fazer do espaço um lugar funcional na vida prática e um retrato da natureza marinha na vida imaginária.

E, se a ampla janela da sala mostra o Paseo de Gracia, a vista para o pátio interno é curiosa: num degradê de azulejos azuis, Gaudí conseguiu equilibrar a chegada de luz aos ambientes internos do topo à base. Quer uma vista mais espetacular? Aguarde até alcançar o terraço da construção, para ver a cidade e a parte traseira do telhado do dragão, aquele bem colorido no alto da fachada.

 

Terraço de La Pedrera é surpreendente. Do topo, dá para ver a Sagrada Família Foto: Bruna Toni/Estadão

MILÀ, OU LA PEDRERA

Dois projetos modernistas num só dia? Quem for à Batlló e à Milà vai perceber que, além de diferentes arquitetonicamente, têm propostas distintas. Gaudí foi responsável por toda construção de

La Pedrera

, encomendada pelo casal Pere Milà e Roser Segimon em 1905.

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Ao longo dos anos, diversas pessoas e comércios ocuparam seus espaços, incluindo o Partido Socialista Unificado da Catalunha 

(PSUC) na Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Foi só em 1987 que uma parte dela, o terraço, foi aberta ao público e que a restauração para fazer do espaço um centro cultural e turístico (aberto em 1996) teve início.

As curvas estão já na fachada, bem mais extensa do que a da Batlló. Como o próprio nome denuncia, é feita de pedras. Suas sacadas, de ferro, parecem uma simples cortina escondendo os costumes da vida burguesa.

 

Fachada de La Pedrera: menos cores, muitas curvas Foto: Bruna Toni/Estadão

Há menos colorido na Pedrera do que na Batlló. Mas as bases de sustentação e objetos como as maçanetas são ainda mais trabalhadas. Cada pedaço de pedra, concreto ou ferro é uma escultura. E há exemplos de peças desenhadas por Gaudí: cadeiras que acompanham a dinâmica dos braços humanos e bancos que se voltam levemente para dentro, em posição para uma conversa.

Na parte interna, é possível conhecer a disposição de um dos apartamentos, e os cômodos reproduzem o dia a dia da elite do início dos 1900, com mobiliário e trajes. No sótão, uma exposição aborda as técnicas de Gaudí e a história de cada uma delas.

O terraço, onde a maioria das pessoas gasta a maior parte da visita, é ainda mais interessante do que o da Casa Batlló. Ali, a bela vista só se soma a um cenário muito mais rico: chaminés retorcidas; torres revestidas com pedaços de cerâmica ou material reciclado; escadas construídas dentro de espaços curvos. Repare em um dos arcos dos cantos: ele enquadra a

Sagrada Família

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ao fundo.

DICA

: compre

ingressos online

e com hora marcada, principalmente no verão. E na internet há descontos. O ingresso para a

Batlló custa desde 24,50 euros e para a La Pedrera desde 22 euros

.

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