A mesquita Zinciriye Medresesi, uma construção do século 14, estava tomada por moradores e turistas. Pendurados em uma sala, recortes de jornais da Turquia, da França e da Inglaterra, sem as manchetes. Os visitantes escreviam ali as suas ideias. ''Obama, não precisamos de você'', propôs um adolescente. Sua Manchete, do designer gráfico turco Hakan Irmak, era um dos trabalhos expostos na primeira Bienal de Mardin. Vídeos, instalações, pinturas e fotografias de 63 artistas turcos e internacionais ocuparam duas mesquitas, uma mansão abandonada do começo do século 20 e a praça central da cidade, entre 4 de junho e 5 de julho. O título da mostra, Abracadabra, brincava com a surpresa dos visitantes ao encontrar arte de vanguarda em uma cidade histórica. A bienal foi o esforço mais recente para transformar Mardin em capital cultural do sudeste turco. Desde 4.500 a.C., a localidade foi um centro dedicado a educação, música e trabalhos manuais. Habitada por várias etnias e religiões, sempre teve vocação multicultural. Mas sua reputação foi abalada pelo conservadorismo e por estar na rota dos conflitos armados ligados à independência do Curdistão. Imagem que Mardin pretende mudar com eventos como o Fashion Festival, na mesquita Kasimiye Medresesi (que deve virar um museu de ciências), agora em setembro. Em outubro, será inaugurada uma gigantesca tela criada pelo artista e cineasta alemão Clemens von Wedemeyer, que exibirá filmes ao ar livre pelos próximos dois anos. Preservar a história de Mardin - que chegou a ser declarada patrimônio da Unesco, mas descredenciada em 2002 - é mais uma prioridade. Tudo para que moradores e turistas possam passar dias tranquilos entre ruas de pedra, mercados, mesquitas e xícaras de chá.