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Turista profissional

As férias do nosso Turista Profissional

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Por Ricardo Freire
Atualização:
Até o computador saiu do ar; e a foto do sanduíche de lagosta foi a única que sobrou no celular do colunista Foto: Ricardo Freire/Estadão

Vivo de responder perguntas sobre viagem. A pergunta mais frequente, porém, costuma ficar sem resposta. “Para onde você viaja nas férias?”, adoram me perguntar. Eu costumo responder com outra pergunta: “Férias? O que é isso?”

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Muita gente sonha em largar tudo para viver de viajar – mas a verdade é que, a partir do momento em que viajar se torna a sua profissão, “viagem” e “férias” cessam de coabitar na mesma frase. Para onde quer que você viaje, tudo à sua volta é "conteúdo" – ou seja, trabalho pedindo para ser feito. Você nunca mais viaja sozinho: passa o tempo todo pesquisando as melhores estratégias para quem virá depois.

No afã de trazer o máximo de conteúdo possível de cada escapada, o turista profissional acaba cometendo todos os crimes de lesa-viagem que condena. O que na viagem dos outros ele chama de maraturismo, na viagem dele é simplesmente trabalho. 

Depois de dez anos nessa toada, resolvi me presentear com uma viagem de férias – férias, mesmo – de uma semana. Primeiro, porque já estava batendo pino e precisava relaxar. Depois, para provar do meu próprio remédio e voltar a praticar um pouquinho de slow travel. E, finalmente, para conseguir responder à tal pergunta que sempre me fazem e fica sem resposta.

Fiz direitinho. Adiantei uma semana de trabalho, para que durante sete dias minha relação com a internet fosse estritamente à paisana. Escolhi um destino que interessasse apenas a mim e à minha companhia de viagem. Um lugar totalmente à prova de “preciso dicas” – se você nunca ouviu falar, é porque não precisa ir para lá, não se preocupe.

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E assim, durante alguns dias, me vi num lugar que não era a minha cidade, mas onde tudo à minha volta acenava com “relax”, “prazer” e “diversão” (e não “trabalho”). Segui com rigor a minha cartilha para viajantes sem pressa. Acordei sem despertador. Escolhia os restaurantes para jantar quando passava por eles de dia. Só tirei as fotos que se ofereceram pelo caminho. Não pesquisei nada que não fosse do meu interesse particular e imediato.

Voltei renovado e de consciência tranquila – vou poupar muita gente de acrescentar mais um destino à sua interminável lista de lugares para ver antes de morrer. Até meu laptop participou da conspiração. Ao descarregar as fotos das férias, o laptop deu tilt e todos os arquivos se perderam. Como souvenir, tenho só as fotos do sanduíche de lagosta – e do show de Jinkx Monsoon (de Ru Paul’s Drag Race), que ficaram no celular.

Viagem de férias: como ninguém me contou antes que era tão bom?

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